segunda-feira, 14 de outubro de 2013

A história de nós dois

A vida se move por misteriosos acasos, e, não diferindo disto, foi por uma série de acasos que eles se encontraram. Ela saiu muito mais tarde da faculdade, e ele saiu mais cedo do trabalho carregando uma caixa. Por acaso, ele pegou o mesmo vagão em que ela estava, e não tão por acaso, ele se sentou ao lado dela. Por acaso ela o reconheceu de algum lugar que não lembrava, e não tão por acaso começou a conversar com ele, por conta da bendita caixa, pois ela é deveras curiosa. Gostavam de música, de formas bem diferentes, mas gostavam. Desceram na mesma estação, subiram a mesma rua, e descobriam que, por acaso, eram vizinhos. Um dia se encontraram, e a partir deste dia, adquiriram uma péssima mania de errar absolutamente todos os lugares e horários de coisas que combinavam de fazer, o que, por acaso, os obrigava a conversar. Os dias foram ficando claros, e um dia, assim, ela acordou com um quentinho no peito e um coração saudoso. Era o amor tomando conta do corpo. E vieram tempos de uma sucessão de erros, mas ainda assim, por acaso, se encontravam no meio do caminho. E apesar dos erros, já que a vida é meio errada mesmo, decidiram que enfim, poderiam se apaixonar. E se apaixonaram, nos tempos de clareza e nos tempos turvos. Descobriram a capacidade das palavras como acalanto e como arma. Cuidaram-se com o cuidado que se tem com o próprio corpo, como a extensão de um orgão vital. As dores foram extremamente doídas e a felicidade foi incabida. E transbordaram em vários momentos e houve também o vazio, como a criança que busca a mãe que se esconde por trás do pano, mas que depois volta a aparecer. Eles sempre apareciam, no final das contas, e o acaso foi substituído pela vontade. Casariam e teriam um Dálmata, era o combinado entre eles ( o cachorro poderia ser substituído por um gato, que se chamaria espetini ). Mas a vida desencontra ás vezes, e foram surgindo outras vontades. Mas há de se estar atento: desencontra do fato, e não do amor. Esse nunca faltou. Nem falta. Ora, quem poderia dizer que se perdeu algo no meio caminho? Só um insensível que não assistiu nas pequenas sutilezas cotidianas, os pequenos afetos deixados enquanto caminhavam. Estamos vivos contrariando uma estatística, e quem poderia dizer que não foi um milagre, além de tudo, terem se encontrado? Porque foi um encontro, feliz. Que importa o desfecho?

Esta é uma história feliz.

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