segunda-feira, 29 de julho de 2013

O que escapa de sua boca é dolorido, atinge em cheio meu corpo frágil feito papel, mas não se pode ouvir as fibras rompendo pois a única preocupação que existe neste momento é a que você possa ser escutado. Mas entenda, não posso mais entrar em competições, pois perco todas. Não tenho fôlego, nem vontade mais de provar qualquer coisa, que nem sei ao menos o que é. Fico ereta sustentando verdades das quais duvido, enquanto no meu íntimo ensaio vontades de mim como uma recém adolescente cria personagens de si para o futuro. Sozinha sou tudo o que preciso de mim: qualquer coisa que não divido com ninguém, mas me assusto ao lembrar que esse futuro que projeto é o meu tempo presente, e que alguém coloca os olhos grandes em mim e me pede abertura para eu ser colocada à prova de coisas que não entendo - mas é o necessário, dizem que é o necessário, para que se possa ocupar um lugar, uma grande vitrine de ganhos - nunca sei qual é o lugar que ocupo.
Se abro a boca, é possível enxergar uma multidão: fica sempre presa no funda da garganta. Para que saia, sou obrigada a arrancá-la, enfio o dedo na garganta na tentativa de causar vômito para que escapem, enfio o punho, o braço inteiro, encaixo os ombros até me engolir e virar-me do avesso, e ali surge a multidão, perto do estômago, com fome de luz. Mas são tímidos, entende? Não querem nada além de ser, o que me obriga, ao competir, utilizar-me do meu não-eu, pois o que há em mim não faz e não vê sentido ao que me pedem. Há estes olhos que me espreitam o tempo todo, mas são incapazes de ouvir o burburinho que me escapa do fundo de mim.