quarta-feira, 29 de julho de 2009

Hoje

Sugar o gozo da vida. Deixar que o líquido divino lhe escorra por entre as mãos, que pingue, e fertilize a terra. Romper a terra. O mundo começa hoje, o corpo sente como se estivesse redescobrindo, nascendo, hoje.

Hoje, eu vou me perder por ai. Hoje, talvez me encontre.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Outra noite me apareceste em sonho

Outra noite me apareceste em sonho. Com a mesma expressão que me fazia disparar o peito quando já de longe te via, esperando na calçada. Assim estavas em sonho, apaixonante, com seu meio sorriso me esperando. Acelerei os passos para logo me atirar no abraço que a muito espero. Mas era como se cada vez estivesses mais distante, e seu rosto mais disforme, já não lhe reconhecia. Parada, atônita, me vi sozinha em meio de borrões.
Acordei com o rosto lavado de lágrimas, soluçando baixinho para não acordar meu bem ao lado. Da sacada acendo um cigarro e imagino onde estarias tu, o que fazias da vida, pois aos poucos sua lembrança se esvai e eu já quase nem lembro de teu rosto. E por infortúnio me apareces em sonho! Típico de ti, de sua personalidade ingrata! Porque não me deixas em paz? Seus beijos? Não pretendo tê-los nunca mais.
Aqueles guisos brilhantes no céu, riem da minha ansiedade. Apago o cigarro. E daqui prometo: Seus beijos, nunca mais!

A paga

Todo amor quando amor, marca a pele a fogo quente e arde de um jeito que só amor sabe fazer. Mesmo quando já frio, já cicatrizado pelo tempo, ali fica para te lembrar. Porque é assim que o amor funciona: Lhe dilacera aos poucos todo o corpo por puro capricho, é o preço necessário para senti-lo.
Agora, se me perguntares se quero me livrar dele, lhe digo com toda certeza que não. Prefiro assim, machucada e humana do que imaculada e vazia. Se me olhares bem, todo meu corpo é marcado, sou pura cicatriz, a um ponto que já não tenho forma.





Eu sou puro amor.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Epifania


Preciso me livrar deste fardo que me cobre. Romper a máscara. De vez, parto pra algo a qual já estou atrasada há muito. Escorrego do útero, divina, imaculada.
Nua.

Nostalgia

Me dê a mão, vamos fazer uma grande ciranda. Comigo não morreu!
Corra antes que ele te pegue. Se esconda, antes que te achem, até que...ALGUÉM SALVOU O MUNDO!
Corre, logo ali, átras daquela casa caiu um pipa. Desses coloridos de rabiola imensa. Veja só o meu peão! Roda, roda, roda...Roda como o bambolê na cintura da menina bonita.
Cansados? Tomemos um chá. Tragam suas bonecas, vamos fazer com que se conheçam. Depois, peguemos os colares da mamãe, e algumas laranjas, pra enchermos o sutiã.
Queremos ser grandes logo, pra podermos usar batom. Vermelho.
Mas agora não se pode pensar em batom porque estamos sob ataque dos ALIONÍJONAS! Vindos de Marte! Não, Vênus! Não, do planeta dos alioníjonas monstruosamente monstruosos que não gostam de patê de atum!
Mas logo veio meu herói, aaaah me salvar das horríveis coisas que podia fazer comigo, como o resto da vida comer escarola, ou lição de matemática de tarde, imagine!
Apostemos quem monta o maior vcastelo de areia! Ou cava o buraco mais fundo! Alguém notou o vovô com sua careca brilhante e sua barrigona, como dorme? Vó, deixaste a massa de bolo pra eu raspar? Bota aquela música esquisita pra eu dançar? Me conte uma história!
Preciso dormir e deixar o dente embaixo do travesseiro. Vou sonhar com a fada Azul, para que assim tudo que eu queira, se eu for bom e acreditar, se concretize.
Eu posso ser o que eu quiser, não foi assim, que me ensinaram? Que uma risada cura o mundo, não é assim? Que devo ter medo só dos bichinhos debaixo da unha, não é?
Quanta pergunta! Vou voltar pro pátio, o sol me espera.
Mais tarde a vida me espera.

A felicidade era capaz de se resumir em um pirulito.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Saudade

É claro que sou capaz de ficar sem você, e não te necessito para ser completa. Com o tempo sou capaz de me acostumar a tua ausência, ocupar a cabeça com algo que me encante, te deixar longe.
Poderia encontrar um novo amor, dois novos amores, deitar-me com quem quisesse e cansada relaxar no braço de outro, outros.
Poderia sim, fazer tudo isso e sem a menor preocupação, o menor medo. A vida se renova, e todo o fim te remete a começar, de novo e de novo.
Poderia me livrar de você agora! Te mandar pra longe, ficar sozinha.

O que me aflige, e me deixa atônita, é que eu não quero, não quero e não quero. E agora, este meu querer me come o peito, minha " bruta flor ".

terça-feira, 14 de julho de 2009

Dúvida

O que me agonia, é que sou triste. E não sei como me livrar de mim.

A vida é coisa frágil

No alto do país, quase mudando o trópico, se fez fim de tarde. Já despontavam algumas estrelas perdidas, enquanto o céu tomava um tom rosáceo e por trás das nuvens, ainda insistiam alguns raios solares de aparecerem, configurando um contorno dourado, quase divino no céu. Estava se preparando para mergulhar no mar, e as ondas agitadas lambiam a beira da praia, numa quebra furiosa de mostrar imponência a qualquer pobre que teimasse em desafiar o oceano.
E teimaram. Um único garoto que gritava alegremente como se fora dono do mundo. Atirava-se contra as ondas que quebravam, dando mergulhos corajosos, furando-as. Passava por cima, por baixo, deitava, incansavelmente, e quando parecia ter sido derrubado, se levantava triunfante num brado selvagem, havia conquistado-o.
Saiu e atirou-se na beira, de braços abertos e peito arfante. O mar vinha, o mar ia, e ele ficava.
O Sol observava de longe a figura do garoto que cansado, fechava os olhos para se transportar para um lugar maior, o próximo a conquistar. Não iria parar por ali, havia o mundo se abrindo em sua direção, não tinha medo.
Num movimento rápido, levantou e atirou-se numa quebra de onda, de um jeito mole. De fora podia apenas se ver o corpo tremeluzindo furiosamente, sendo atirado por entre as correntes, fazendo força pra se levantar, mas não conseguia. Seria a vingança?
Se sacudiu, até que uma hora parou de bater. Na verdade foram alguns minutos pra que o pulmão cheio de ar se preenchesse de algo líquido, salgado.
O corpo não voltou pra beira da praia, o corpo não voltou mais. Estava pronto, não para conquistar o mundo, mas o infinito.

Paradoxo Darwinista

E se a lei do uso e desuso fosse aplicada aos homens, que pouco usam o cérebro, as gerações futuras, poderiam nascer sem a massa cefálica que nos é concedida?

segunda-feira, 13 de julho de 2009

A dolorida experiência de estar

Desconfio do destino, e sou aberta a todo tipo de cerimônia. Talvez porque o homem use apenas 10% do cérebro, quando alguém faz algo extraordinário, atribuímos seus méritos a algo superior. A nossa descrença em nós mesmo nos vêm matando há séculos. Não, não é culpa da religião, é única e exclusivamente nossa.
Não é necessário ir a uma cartomante para saber o que lhe vai acontecer - Para tudo há uma resposta, consequência de um ato pensado [ ou não ] seu, e da resposta sempre o bendito " dois lados da moeda ". Isso de bem e mal é uma explicação muito chucra da vastidão que nos cerca, nos prendendo a moralidades patéticas, adoecendo-nos, absorvendo-nos a uma cultura de valores inversos e ultrapassados. Estamos além de dois adjetivos, e a personificação deles nos aprisiona, nos deixando incapazes de prosseguir.
O caos é necessário, por mais que se queira evitar. Aceite-o e lide com ele, de forma que depois que te estoure o peito de dor, que dessa explosão lhe escapem estrelas, e assim, te liberte da densidão que é o corpo. Somos inteiros quando somos alma, presos no corpo somos obrigados a fragmentá-la. Tenho um amigo, que me disse " O fato de ter se encontrado não quer dizer que se conheça ". Sou tanto retalho, que talvez nunca me conheça. Não me entristeço, pois é como se cada dia me descobrisse de novo, mas a custa de parecer uma tela cubista.
Não se deve ter medo, atirar-se de cabeça não é suicídio, por mais que pareça. O que mata é a beira do penhasco, a expectativa. Fantasiamos coisas que não existem, de como é chegar embaixo, até que nos enraizamos e criamos frutos que escorregam pra baixo, e tu ficas, sozinho.
A liberdade pertence aos homens, eramos livres antes mesmo de sabermos o conceito. Não existe erro mais grotesco que se apossar de alguém, como nos foi instituído que deve ser. Não é! Chamem-me de libertina, de devassa, mas cuspo em quem me diga que só amou uma vez na vida! Ou quem nunca amou dois ou três todos juntos! É um desperdício de sentimento dedicar-le a um único ser vivente, o sufocaria com tanto! É necessário que amemos desenfreadamente, a todos. Essa é uma das únicas formas de nos salvarmos. Livrar-se do papel do bom pastor, dessa atitude sacra.
Falta sensibilidade, para ver que a chave de tudo, lhe está disponível em todo canto, não só em cima. Um dia na rua, aflita vinha em passos rápidos e coração apertado, pois havia terminado de brigar com alguém que gosto muito. Havia no meu caminho [ não, não era a pedra de Drummond] , uma mãe dizendo pra filha : Se deve respeitar as pessoas!
Afobada, só queria saber o que eu estava sentindo, não me importando com o que a pessoa precisava, Talvez de tempo? Talvez um tapa? Enfim, era necessário a recuperação de ambos para que saísse algo proveitoso e racional. E a mulher com certeza não era nenhuma guru espiritual, pois puxava a menininha pela jaqueta cor de rosa.

Nos falta eclodir, assumir de vez, que somos maiores do que parecemos. Parar de pertencer a si, e pertencer ao mundo. Sair do estágio semente e romper a terra.