segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Não vou mais chorar por amores imperfeitos

Não vou mais chorar por amores imperfeitos
Pois, o que seria do mundo
da poesia
das terças modorrentas
sem seus despropositados deslizes?
sem os infinitos suspiros
ou o nó apertado da garganta
que faz e desfaz
tira o ar de mansinho
mas exita em sufocar no final.
Como ser retrato
espelho ingrato que não priva
nenhuma das marcas de quem sente e faz amor
espalhadas no corpo
do próprio tortuoso ser
amante e amado
sem estes imperfeitos amores?

domingo, 20 de janeiro de 2013

Eu vou voltar a ouvir músicas de amor

Eu vou voltar a ouvir músicas de amor, e talvez até ler uns poemas. Vou limpar o armário e pendurar de novo as roupas que gosto e deixei de usar por parecerem deslocadas, mas principalmente, vou voltar a ouvir canções de amor, sem torcer o nariz ou criticar, sem ressentir, sem magoar. Só vou ouvir, talvez cantarolar algumas palavras enquanto caminho pela casa arrumando tudo que, pela correria, pelo desajeito da vida deixei atirado. Vou voltar a ouvir Vinicius, o Tom, quem sabe até aquela banda dos irmãos e suas canções melosinhas. Vou distorcer a cara feia, jogar fora alguns bilhetes e reler tudo que escrevi afoita no meio da noite, tudo bem ridiculinho e bem apaixonado, me perdoar por não ter mandado, selar com um beijo e guardar entre os cadernos. Tomar um chá doce para desamargar, me pendurar pro lado de fora da janela e mandar um beijo pra casa da minha rua, pra amarela, pra azul e pra verde, assim, numa pose meio Fred Asteire, com, claro, uma música de amor no fundo, vou sim, vou voltar a ouvi-las e quem sabe um dia cantá-las de um jeito assim, bem natural, desse jeito que a gente canta. quando as coisas vão bem de novo.

sábado, 5 de janeiro de 2013

Chega em casa, vai até o quarto e tira, os sapatos e a roupa. Desfila pela casa com sua calcinha de renda preta, se olha no espelho, desliza os dedos pelo corpo e se desanima quando percebe os olhos devolvidos pelo reflexo. Senta na cadeira e beberica um resto de algo que ficou no copo em cima da mesa. Limpa o batom carmim na ponta da toalha - que ficará para sempre manchada de vermelho.
Levanta, acende um cigarro e senta na cadeira da sacada. Não tinha com o que se preocupar, pois quem a vestia era a própria noite, velava seu corpo com um tecido acinzentado, escurecia seus olhos, destacava as olheiras. Uma das mãos, a direita, pendurada sobre os braços da cadeira com o cigarro penso, e com a outra fazia pequenos afagos em seu peito inquieto, bem ali onde fica o externo. Gosta de saber os nomes das partes do corpo, esta. Fêmur, tíbia, omoplatas, sacro, crista ilíaca, ísquios, metacarpos, metatarsos, passava horas procurando por eles, conferindo parte por parte, sabe, ajuda nos movimentos. O cigarro queimou todo, as luzes vizinhas foram se apagando, todos foram dormir. O mundo segue mesmo quando insistimos em ficar no mesmo lugar. Elas acabam mesmo que continuemos.
E quem sabe o ponto exato em que elas se encerram?