quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Só de vez em quando...

Só de vez em quando, eu queria sentir que finalmente passou, que finalmente estou bem e que já consigo pensar em prosseguir sem receios, sem medo. Que eu pudesse olhar, e me reconhecer perfeitamente diante o reflexo. Que este viesse de forma explosiva repleto de si, de mim, e enchesse a casa assumindo sua obrigação já um tanto atrasada de pertencer, existir. Só de vez em quando, queria sentir que nunca me despedacei, e que de forma irresponsável atirei meus pedaços a outros, pedaços de carne crua, inúteis. Ter conseguido ser um corpo em sua totalidade, e ter me apresentado assim - membros, cabelos, olhos, tripas, pulmão e um coração pulsante - plena. Só de vez em quando, poderia ter pensado em juntar as lágrimas que tanto derramei e ter regado algo, ou guardado num copo pra quando fosse necessário navegar, mas nem disso fui capaz. Fui apenas me guardando, pra algo que já nem sei o que é. Só de vez em quando, queria saber, o que realmente eu estou tentando provar, pra poder sorrir de forma despreocupada, só de vez em quando...

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Procuro...

Não. Nada, nada! Além de você...
Hoje acordei suada e com o rosto coberto de lágrimas, causadas por um sonho ruim. Em vão, rolei meu corpo para o outro lado da cama, onde você não estava. Desesperada, transformei o vão entre a cama e a parede em um enorme abismo. Me agarrei forte no pedaço de madeira da cabeceira, sentindo o enorme espaço despreenchido. Não sei se era a cama, se era eu, se era o quarto, só sei que era tudo um imenso vazio, um grande nada no qual eu fazia parte. Afundava o rosto molhado no travesseiro, e um filete de esperança surgia ao ver que este produzia marcas molhadas no tecido - era um sinal de que ainda estava ali. Mas e você? Sem me soltar, procurei atônita teu cheiro no espaço, marcas no corpo, vazio.
Me diz, porque te escapas devagarinho de madrugada? O que fazes? Buscas um novo amor na calada da noite? Não consegues ver que sofro na ausência do toque seu? Que quando entrelaçados nossos corpos, não existe nada além dos limites da minha cama? E mesmo assim, você não está aqui. Sou apenas eu, mergulhada num imenso vazio, escuro, perturbada por um sonho ruim.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Sem título 6

Tá, vou deixar você entrar. Só tome cuidado para não se perder, são infinitos os caminhos, e na sua maioria são escuros. Mas te garanto, pode pisar sem medo. Terão infinidades de coisas para que teus outros sentidos sejam aguçados. Mas entre, devagarzinho, te garanto que haverá uma parte para seu aconchego, onde descansarás numa tranquilidade infinita -é a pequena parte que ainda não é escura- e lá estando, sei que serei tomada por um calor absurdo, que vai pulsar o sangue por todo meu corpo, e com um sorriso ligeiro vai me passar pela cabeça que ainda há vida, e que no exato momento que você decidiu entrar, ela se fez mais presente do que nunca.
Estou neste exato momento, rompendo o meu constante estado de tédio.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Sem título 5

De repente do picadeiro, eu passei pro trapézio. E do alto eu me balanço, balanço, e há diversos espectadores. Alguns torcem pra cair, outros querem ver as piruetas e alguns não querem nada. O fatídico: Se eu solto, eu me esborracho? Caio de pé numa elegância felina? Talvez desafie a gravidade me projetando cada vez mais pro alto. Então eu fecho os olhos e me atiro, de peito. Não houve reação, na verdade é como se o tempo tivesse parado e eu me mantenho suspensa por algo maior, por quanto tempo? Não se sabe. Qual será o fim da nobre trapezista? Pouco me importa, estou interessada é no meio. Nada de ruim pode me acontecer agora.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Sensíveis

Abriu a porta do quarto e saiu em passos majestosos, mexendo de um jeito displicente no cabelo. Perdeu toda sua elegância ao atirar-se no sofá de forma confortável, mas logo percebeu que ele a observava de um modo terno, um jeito dele. Tímida, retomou a pose e sentou-se em perna de índio, tomando cuidado em ajeitar o vestido para que não lhe aparecessem os fundilhos e as coxas brancas. Finalmente ergueu os olhos.
Não conseguiu encará-lo de primeira. Seus olhos focaram-se no que havia atrás dele. Detestava a cor daquela parede. Voltou a olhá-lo. Ele continuava em seu estudo quieto, quase em transe, e ela se sentiu nua. Não adiantava arrumar o vestido, este se desfizera, e lá estava ela, exposta com seu corpinho infantil. Na verdade, já não tinha tanta certeza se ele era como na sua memória. Lembrou-se de outro dia, na frente do espelho onde, atônita, percebeu que brotara carne em lugares estranhos, e na lateral de sua barriga faltava. Não conseguiu decidir se essa carne faltante subira ou descera. Seu corpinho geométrico estava vulgarmente orgânico. Voltou, e seus olhos se encontraram.
Ele tinha assim, olhos fundos. Algo líquido. Via a pupila dele abrindo e fechando, como se estivesse fazendo um convite para entrar. Líquida. Subiu-lhe um calor. Foi se aproximando, a pupila cada vez mais dilatada, ela se preparou. Colocou-se em posição de mergulho, seria rápido, rápido -1..2..
E fora brutalmente retirada de seu devaneio por um estômago gritando indignado. Como odiava o corpo! Odiava a autonomia que ele tinha –fome, sede, cansaço, dor – odiava estar presa a ele. E os olhos dele, para seu pesar, estavam agora fechados.
Aquele calor concentrou-se nas coxas. Sentia aquele quentinho dançar de modo frenético. Subia de uma maneira divertida, lhe causando um riso leve. Subia, descia, escorregava pela pele, saia e entrava nos poros. Sentiu sua cabeça tombando devagar, até recair no encosto. Abria e fechava os olhos devagar, e numa dessas aberturas viu que de novo, ele a observava. Via dos poros dele, algo dançante escapando também, um calor saltitante na pele. A pupila dilatada. Eram cúmplices.
Veio o medo. Tentaria? A pupila agora estava enorme. Já podia enxergar, lá longe, uma forma sentada, também medrosa, ou tímida, esperando. Decidiu que o corpo ficaria, podia atrapalhar. Soltou-se com uma facilidade surpreendente, como se sempre houvesse sabido como.
Agora, tão fluída quanto aqueles olhos aguados, posicionou-se.

Se atirou.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Comentário

Percebi que tudo que sinto se esparrama. Criarei limites para me conter, mas acho que até a forma depois desmancha feito água, ou se permite aberturas...para escapar só um pouquinho...senão não aguenta!

Amigo, de ti me despeço

Não estou em paz. É completamente atônita que te deixo partir a descobrir o mundo, sem mim.
Apesar de todo o amor que tenho no peito, engulo o choro e deixo que este se esvaia aos pouquinhos, transbordado.
Vou esvaziar. A cada gota que vai, é o que eu era que também se retira, e me vejo obrigada a reinventar-me. Não creio que possa me parir de volta, mas vou me permitir e deixar que me preencham. Destruir para construir. E este amor esparramado, cuidarei para que continue genuíno, sem manchas, como quando o dedicava a ti.
Sei que algo novo fluirá em mim, mas apesar disso, percebo que meu corpo é um retalho de emoções que me marcaram feito tatuagem. E pior, percebo em algumas marcas o sangue brilhando, novo, vindo de uma ferida ainda aberta. Vai passar, a dor vai passar, mas a olho com um carinho familiar, pois sei que tímida, ficará ai, cicatriz. Longe de mim desprezá-las! É a prova de que fui capaz de suportar o sentimento maior do mundo.
De que sou capaz.
Apesar das lágrimas que ainda me afloram com facilidade, me aflora também um sorriso sincero. Fomos verdadeiros. Cada beijo, cada toque, gemido, cada instante foi real, intenso, e vive num espaço atemporal, o qual o corpo não nos permite alcançar.
Então, aguento firme, na crença de que talvez não fossemos para agora. Aguento firme, na esperança de que eu seja capaz de suportar o que vier daqui pra frente, porque mesmo com essa angústia, que insuportável insiste em estar, sei que sou maior. Sou puro amor.
É com um sorriso aguado que me despeço, sabendo que teremos outros amores, mas que estaremos vivos num tempo só nosso.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Tristeza

O amor vai me matar
não vai sobrar nada
não pretendo, claro, deixar nenhuma marca
a não ser a que no meu próprio rosto se revelará como queimadura
o caminho de minhas últimas lágrimas.

Vou encontrar o aconchego
na eternidade de meu sono terno
conseguido ás custas
de um peito rasgado pela desilusão
de uma alma em profundo desespero.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Sem título 4

Viver é morrer aos poucos...

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Prece

Senhor,
Necessito de fé, para que estas palavras valham alguma coisa. Algo em mim tornou-se oco, e com pequenas migalhas busco inutilmente me preencher. Não permita que apenas o tempo cuide destas marcas, deixe que o sopro de vida, vindo das coisas divinas, se aposse de mim. Permita que eu me dispa da arrogância de crer que sou incompreendida, colocando-me num patamar elevado, distante. Deixe que a minha humanidade transpareça apenas, a única coisa que me conecta com meus irmãos, e que eu seja capaz de aceitá-los, da forma que se apresentarem. Não quero compreendê-los, sendo que a única compreensão que se pode alcançar é a de si mesmo. Somos os únicos que conhecemos bem, mas algo faz com que temamos o contato. Não me permita ter medo. Permita que eu ame apenas, de todas as maneiras, de forma plena, um sentir capaz de estourar o corpo, espalhado. Permita que as lágrimas que eu derrame, sejam água milagrosa, fertilizando o chão sob mim.
Senhor, acima de tudo, me permita ser. Me permita estar apta ao que legaram aos homens:

Ser, sentir e amar.

terça-feira, 29 de junho de 2010

O Amor..

Ah o amor...Não mata!
Quase só..

terça-feira, 22 de junho de 2010

Onde estarão aqueles que deveriam estar atrás das portas?

Desajeitada, abriu a porta devagar. O contato da sua mão com a maçaneta fria a fez hesitar um pouco. Deveria? Afinal, estava assim, tão confusa. Com a porta semi aberta ficou parada, pensando. O pé sentindo o carpete. Tombava o corpo para a ponta dos pés, dedos, voltava e inclinava-se para o calcanhar, repetidas vezes. Entrou.
A sola do pé, encontrou o azulejo frio. Fechou a porta devagarinho, fingindo ter gente na sala, apenas para não se lemvrar o quanto se sentia só. Seu peito subia e descia, em tomadas de ar rápidas. Inspira-expira- Inspira-expira. Surgia uma pequena ânsia de origem ortodoxa, dessas cheias de pudores. Aos poucos, foi substituída por um arfar que continha uma certa ardência, quente. Seu nervosismo era tanto, que uma gota de suor, por breves instantes, torno-se o protagonista da cena - percorreu a nuca, desceu para o pescoço, contornou sua saboneteira saliente, o colo, e com uma surpreendente cautela, escorregou para dentro da blusa.
Coragem, pensava.
Fitou com atenção seu objeto de desejo, caminhou com certa sensualidade, os olhos fixos, e devagarinho passou a mão sobre sua superfície fria, segurando a borda com certa força, para controlar o êxtase que minuciosamente se espalhava pelo corpo.
Girou a torneira. A cada jorro de água quente, sua cabeça ia longe, fervilhava no meio de corpos, braços, peitos, corações e vísceras. Assustada, percebeu que de seus folículos capilares, algumas borboletas escapavam. A força que faziam para sair daqueles poros incomodava, sentia suas patinhas se empurrarem, mas quando soltas, ah! Faziam um pouso leve na parede, abrindo e fechando suas asinhas vagarosamente.
Ardia, seu corpo pedia, protestava, procurava um toque. Foi a mão que fez o primeiro gesto. Cautelosa, as pontas dos dedos contornavam seus lábios. Contornam os seios, deslizam até a borda da blusa e a tira. Carinhosamente, desliza a mão pelo ventre, procura a cintura, as costas. Desabotoa o sutiã. Seus mamilos desabrochavaram em flores. O peito arfava excitado. A calça escorregou feito seda por entre as pernas. Estava completamente nua, com um corpo repleto de si mesmo.
Era chegada a hora. Sem segurar-se, mergulhou um pé. Sentiu a água quente engolindo devagar a sua perna, e o resto do corpo arrepiando-se. Veio a outra perna, e enfim, submergiu o corpo, a água quente acariciando a pele, se espalhando sutilmente por todos os membros feito gato, contornando, preenchendo. Um calor desconhecido lhe subiu por todo seu sistema nervoso, espalhando-se por todo o corpo, explodindo.
Foram-se os pudores, datas e dores. Não via as borboletas que lhe escapavam.
Exausta, seu corpo acomodou-se na porcelana da banheira. Estava dormente, extasiada. Abriu os olhos, feliz, para as diversas borboletas que ruflavam as asinhas, assim, como se estivessem se espreguiçando. Com um susto, percebeu uma borboleta negra, discreta, observando-a.
Ignore, pensou. Não iria sair dali, não, não iria.
Silêncio. Água morna. Borboleta negra, o corpo já reagia melhor aos comandos de movimentos. Sentia a superfície fria, sob qual o seu corpo descansava. Ela ali, discreta no meio do colorido. Observava atenta. Silêncio. Uma pequena agonia nascia, buscava um barulho por detrás da porta, alguém. Olhava a porta, alguém entraria e tiraria as borboletas dali. Quem?
Se deslocou. As asas negras atravessando o ar. Pousou na beirada da banheira, perto do dedão. Seu corpo agora tremia, uma gota tímida escapava dos olhos, involuntariamente.Silêncio.
A água, havia esfriado.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Infantil

Fico tão sem jeito
me torno pequenina
e uma grosseria esconde
meu frio na barriga.

Quando me tocas
ai! Me desmancho em flor
e borboletas voam no estômago
Se abro a boca...escapam
razão do meu silêncio, ás vezes
tão repentino.

Me uso do descaso
e espalho meu afeto no papel
esparramado, talvez nunca te entregue
Desajeitada, me ponho a sonhar
e te desprezo.
Puro capricho.

sábado, 8 de maio de 2010

Matutei...

Outro dia estava me alongando, fazendo as mãos encostarem os pés. Ora, porque não podia simplesmente me esticar pra cima, e fazer as mãos encostarem no céu?

Encontro

O encontro já estava previsto há tempos, sabiam assim que se encontraram. Mantiveram a cordura por pura imposição da educação formal que receberam. Mas algo que fluía de dentro sabia, fervilhava de pura excitação, se encontraram. Finalmente se encontraram, no meio de tanta desavença, de tanta fragmentação, se encontraram. Tudo que conheciam até então era irrelevante diante daquela descoberta, e viram o mundo desmoronar em luz quando os corpos se encontraram. A pele gritava desesperada, a boca pedia para que se encontrasse, os membros, os orgãos queriam essa fusão em um único, e tudo em volta era nada. Só existiam eles dois e tudo que explodia de dentro deles. Seus sons, o gosto. O universo se resumiu nisso por momentos intensos, fortes.

Mas, no final, todo o concretismo vence. E do paralelo mundo, retornaram, sentiam as rotinas passando ao lado. Mas já não eram mais os mesmos, não podiam ser. Um beijo de despedida na porta, um olhar desejoso deixado para trás ao entrar no elevador, sabiam que ali, a partir de ali, algo nascia. Vida nova. Venceram a solidão, a monotonia.

domingo, 2 de maio de 2010

Relógio

A cada dia me encurta
já não tenho tempo
o fluído vital me escapa pelos dedos
escorre, vai embora na água corrente
se afugenta no boeiro e,
a cada dia me encurta
já não tenho tempo
A minha pele aos poucos se marca
meus olhos se enturvam
O cansaço me chega e me afaga como um velho amigo
me derrubo com uma leveza extraordinária
no piso frio, e dos meus dedos, raízes
me prendem
e agoniada lembro que
a cada dia me encurta
já não tenho tempo

Tempo? Não sei que tempo
mas esse grita, me intimida
e as minhas raízes fincadas, meus olhos turvos
meu cansaço
Me sugam e me permitem alienar de algo que me é inevitável
Que a cada dia me encurta
e já não tenho tempo...

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Frustração

É claro que te amo, e que tua indiferença me cria no peito feridas purulentas.
Podia encontrar a paz diante do teu corpo nu, mas agora me sinto derrapar em tuas curvas apenas, e o teu abraço? Ah! É como se me atirassem um balde de água gélida, e o grito do susto se tornasse uma estalactite na minha garganta e a rasgasse, e a vontade que tenho é de deixá-la sangrar até que o último fio de esperança pudesse se esvair e se perder no espaço.
Creio que nem assim meu amor, olharias pra mim. Sucumbi tanto diante desta agonia que nenhum traço me resultou, sou um corpo já deformado de tamanha solidão, sou o mal cheiro da decomposição, sou esta, pequena, diante dos desencontros desta vida. Sinceramente, não posso dizer que sou muito mais do que a lembrança de que era. Eu mesma, agora? Pura apatia. Me deixo tombar perene, num poço salgado de lágrimas, minha garganta sangra, de tanto gritar para que você não se vá, até a hora que me fiz toda desânimo. Esfaleci, diante de algo que nem acreditava que existia. E hoje você, meu amor, duvida daquilo que me fizeste acreditar.

sábado, 3 de abril de 2010

Palavras

Lido com a palavra, melhor do que com qualquer outra coisa. Por isso, aprendi que com estas devo ser cautelosa, dominá-las, e não deixar que me dominem. Mas confesso que ás vezes elas me escapam, num sentido que só elas carregam, incompreensível ao externo. Surgem assim, caprichosas, cheias de vontade, exibidas..E eu constrangida tento, mas não posso engoli-las e colocá-las de onde nunca deveriam ter saído - de dentro - pois refugiam-se no espaço preenchendo tudo, até o que não deveria.
São atemporais, imutáveis. Por isso...Há de se ter cuidado com as palavras.
O único que me causa mal estar diante da palavra, é que um dia eu serei palavra. Paloma, as pessoas dirão, e estarei aprisionada ao meu nome, pois da boca não escapará mais palavra nenhuma.

domingo, 28 de março de 2010

Querer

Quando pequena
queria ser estrela
grudar no manto azul escuro, ser guia.
Um pouco mais velha, queria ser guerreira
acabar com a injustiça, salvar pessoas
prender vilões, ser exemplo.
Ainda mais velha, queria ser alguma coisa diferente
despadronizar, criar, ser ousada.
Autêntica.
E nada mais era que releitura.
Há poucos anos...minto...meses, queria ser comunista
Lutar contra a desigualdade, mudar o mundo
me livrar do obter para chegar ao ser, ser gente.

Agora, depois de tanto querer ser
e de ter meus ideais destroçados
Percebi que maior que minhas vontades, é a vida
E que esta, acima de tudo, só quer viver.

Outro sem título

Me deparei outro dia pensando, que bom, que dádiva seria não pensar.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Sem título 3

Preciso, quero mudar já!
Mas ai, acho que perdi a oportunidade.

Dom

Deus me deu o dom
e não poderia, ora, recusá-lo sendo este divino.
Só de lembrar, tudo aquilo me escapa, e mergulho
com calor, com ânsia, ao que me foi reservado
ao álcool na garganta, o cabelo cheirando cigarro
um bustiê de paetês iluminando a noite
o preenchimento, o toque de um corpo solitário no meu oco
não em mim, no meu oco.
Pois eu estou protegida, e nada me toca, estou fora
estou junto ao meu Pai, e em mim não chegam estas mãos solitárias
confio que há algo maior, depois
e enquanto isso, as marcas, o cheiro, o gosto quando volto a carcaça
me mostram, me orgulham, estou no caminho
Presa, ao dom que Deus me deu.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Sem título 2

Apresente-se por favor, quem está disposto a me achar, porque eu me perdi.
E juro, não faço nem ideia como eu faço pra voltar.

Ainda hei de morrer em cima do seu corpo

Ainda morro de amor em cima do seu corpo
Sentindo todos os meus sentidos se esvaírem
Vou me perdendo aos poucos
Até que tudo que exista em mim entre em caos
e exploda, estoure
Não quero me controlar, quero esquecer, arfar
Sentir o peito cheio, o pulmão lotado de ar, pronto
pronto para me fazer berrar
Eu já não sei mais onde eu começo e onde tu terminas
Já me perdi, já não sou minha
estou entregue a devaneios, estou suspensa no ar
da minha boca sugaste tudo, tudo que era meu, e me atirou no espaço
Quero que encoste a boca na minha
Arrebata com tamanha força o meu frágil corpo
de um modo que só exista a minha respiração forte, pedindo
implorando
Para morrer em cima do seu corpo.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Sem título

Pronto, estou pronta. Para tentar provar algo que nem eu mesma sei o que realmente é.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

E aqui fico

Quem sabe um dia
volte aos primórdios, ao útero
E lá, encontre de volta o aconchego.
Me agarrarei forte nas paredes
Para nã ser expulsa.
E fico.

Resumo todo o tato, numa circunferência
interna, escura, impenetrável. Minha.
E fico.

Quero sentir apenas o que me é alheio
Nego, o que me é direto
Não quero a carne exposta, nem essas feridas mundanas-
marcas de uma existência sofrida, maltrapilha
Quero apenas a particularidade de minha matriz
comprimida, sem luz, sem nada.
Sou nascida da escuridão, e para ela retorno.
E fico.

Deixo bem claro, dispenso tudo!
Desprezo qualquer manifestação humana, errática
Não vou estar, não vou ser, simplesmente não vou
Não quero! Não! Nunca mais
Minhas lembranças? Pra que as quero?
Me solto, me livro, volto. Pro aconchego do útero, um coma
Livre da consciência, da noção, do tato. Soterrada.
E fico.