terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Ai que aflição!

Ai que inquietação!
Se fico, se vou, é tudo a mesma coisa! Sempre, sempre.
Não adianta, já não sei se estou, se não estou
Será? Ai Será? Já me busquei infinitas vezes
em cada canto, cada centímetro, olhei pela janela, e nada. Nada!
É tudo a mesma coisa!
Estou atônita, irritada, já era tempo que tivesse me conhecido, me apresentado
E não apareço, me deixei esperando. É sempre a mesma coisa
Serzinho ingrato. E pensar que eu te carreguei. Desde pequena. Senti contigo seus sonhos, seus medos, principalmente seus medos
Minhas entranhas reviravam junto de ânsia! E agora isso? Somes! Não apareces mais!
Depois, se me basear em outros, por dentro choras! Acha que não sinto?
Sua vontade de aparecer, explodir?
Então, apareça! Não me deixe mais aqui.
Você sou eu, e é assim que devemos seguir, não se faça uma face a parte
quando pode ser maior que isso.
Já sei o que é, e se de repente, você não for nada? Por isso não te libertas
E eu não passe de uma invenção minha?

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Nascimento

Quando me fiz, desenvolvida num útero amargo
arrancada fui, ao contrário
Para lembrar-me sempre - Primeiro se fixam os pés
Mais tarde se der, a cabeça

Quando me deram a luz, fez-se escuro
Rápido! Esganavam-se as horas - ainda restam miseráveis a nascer
Ao abrir os olhos, a luz os comeu
Fui obrigada a inventá-los, colocá-los nas mãos, na língua

Lá vai! A tresloucada, mal parida!
Ser retalhado, sem feições significativas
A puta! Vadia!
Sorriso quebrado, peito vazio, alma ferida.

O que se fez de seus pés enraizados?
Palpita um coração nesse corpo frio?
Só sinto o fel de teu sangue amargo
A carne do teu seio, nu, entregue ao mundo

Se Deus está em tudo, está dentro de mim
Entra noite adentro, noite no meu corpo
Se não está
Sou puro infortúnio do destino

Quando me vi, alma triste resignada
Não suportei o peso de me parir, de novo
Abortei tudo
De mim, não resta mais nada.