quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Sem título

Não são, ainda
mas vão, com toda certeza
Mas se não vão, mantenho que não são
É preciso estar pra ser, ou ao contrário?
O caminho é ir, ou fazer?
Quem constrói, o ser?
Quem julga,eu?
Se forem eles, fico só, pensando o que ou pra onde?
E se tu aparece na linha de baixo
Posso pensar que depois dele, seremos nós?
Ainda cabemos na mesma frase?

Revanche

- Olha queridinha, não me olhe dessa forma, como se fosse um absurdo o que estou falando, porque às escondidas eu sei que, assim como eu, você adora cair com a boca em um pau.

Piscou meio incrédula com a afirmação, mais pelo choque de ter sido descoberta do que com o que foi dito. E agora, como zelar o que havia construído para si, se esta estrutura mostrara-se tão frágil diante da naturalidade?

sábado, 5 de novembro de 2011

Da busca

Hoje acordei com vontade de escrever algo bonito.
Queria contar como me sinto, mas já desisti porque sofro de auto sabotagem. Eu tenho alguma coisa com relação a felicidade, que eu sempre acho que não mereço estar bem. Terapia, corre pra ela, mas sentar e pensar em angústias é o que eu faço de melhor. Senhor, o mundo me angustia, a existência me causa tal problema que sonho constantemente em ser uma planta. Falando em sonhos tive um sonho muito maluco, onde, em uma roda enorme, várias pessoas contavam seus problemas, e com todos eles eu me identificava, mas o das pessoas eram super potencializados, e então eu me sentia mal por me sentir mal diante do quadro deles, mal e frustrada, afinal, o sonho era meu! Eu deveria ser a vítima, não é? Meu sonho, atenção pra mim. Meu terapeuta dizia ( e nele eu acredito, piamente, como uma entidade superior que veio me guiar, amém), que todas as pessoas que aparecem em nossos sonhos somos nós, dentro de uma faceta, ou personalidade, ou sei lá o que, que não acessamos acordados, ou algo parecido com isso. Não prestei real atenção no resto da frase, gosto muito de saber que sou eu, e eu e eu, afinal era só o que me faltava, ser coadjuvante até no meu sonho. Enfim, complexo de maria madalena, preciso de muita atenção pra me sentir bem, então resolvi tentar um processo contrário:
Sozinhez. Ou o máximo dela. Comecei a fazer caminhadas sozinha, sem música, sem livros. Estar em espaços fechados sozinha, pouco conversar, pouco contatar. Me percebi respirando atônita, e um corpo que anda um tanto destrambelhado e aflito, e juro, desespero é latente e visível. Sabe aquele sonho de ser planta? Pois é, descobri que sou quase. Penso muito, de maneira negativa pois é um pensar inerte ( Newton, sabe?), atravanquei meu caminho com pilhas de coisas, que eu, só eu posso limpar. E eu preciso estar sozinha, acho. Tem gente que a gente gruda que nem encosto ( exu, vampiro, demônio), e o ruim é quando você se percebe esta entidade maligna, mesmo que inconsciente. Pra não apanhar de espada de São Jorge, corto o cordão umbilical.Um por um. Amor sufoca, se doente. Eu estou doente.

Quarentena...

Hoje eu acordei com vontade de escrever algo bonito. Pensei no meu sonho, pensei no meu dia, pensei no que eu vi, pensei no parque, pensei em mim. A indiferença é minha.

Diagnóstico: Eu sofro de descrença.

Eu presto atenção na minha respiração. É pequeno, mas vital pra me lembrar que eu pertenço aqui ainda.

O bonito: Alguma coisa em mim ainda resiste, em algum lugar. No meio do caminho eu vi um ninho de passarinho, com um monte de passarinho, eu chorei, escondidinha e DISCRETA. Tem coisas que ainda insistem em nascer...
Está faltando eu, e já me mostro bem atrasada.


quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Da perda

Tinha um bichinho o qual amava muito. O guardava no peito, para carregá-lo junto comigo pois sofria na sua ausência. O apertava sempre com muita força contra meu peito, querendo que ele entrasse dentro de mim, até que um dia, num acesso de amor eu matei meu bichinho sufocado. Eu percebia seu incômodo, mas o amava muito para soltá-lo. Cuidei com sofreguidão daquele corpinho aplastado, e dormi as primeiras noites com ele do meu lado, achando que se ele me ouvisse chorar ele desistiria de morrer, e voltaria barulhento.

Mas não veio.

Vencida eu enterrei meu bichinho no canteiro do jardim. Cavei com uma colher a tarde toda aquela terra posta articialmente dentro de uma caixa de cimento, cavei até criar um espaço bem maior do que o corpo do bichinho, pois o via muito grande, de verdade. Embrulhei-o em um paninho que usava no cabelo e joguei terra por cima. Joguei flores por cima. Deitei meu corpo por cima como uma viúva prematura, experimentei a terra da qual ele fazia parte, pois era a forma que eu encontrei de ele estar dentro de mim.

Tempos depois nasceu um matinho aonde eu enterrei meu bichinho. Com uma alegria que mal cabia no meu corpo, eu explodi de emoção e comecei a colhe-los. Ele deve ter ficado bravo no começo, mas me ouviu chorar e encontrou forma de desmorrer. Colhi todo aquele corpo novo do bichinho, para ele estar perto de mim.

Anoiteceu.

E encontrei as mudas mortas em cima da mesinha. Devolvi da onde nunca deveria ter tirado.
Nunca mais iria fazer parte de mim.