sábado, 24 de dezembro de 2011

Carrego em mim o peso de alguém que há muito busca algo, do qual já nem recorda o que é. Me divido em infinitos passos dentro de mim, indo de um lado pro outro, nessa busca incessante, atrás de alguma prova irrefutável que seja suficiente para justificar essa perda que se faz tão presente. Essa ausência tão amarga, perceptível em cada parte do meu corpo, faz com que eu me preencha com o outro, em míseros minutos de falsa plenitude, pois a companhia já não se faz suficiente para abrandar tamanha agitação.
Na verdade é com o outro que a solidão apresenta-se ainda maior, e a ponte que me une ao mundo é substituída por imensos muros, vem como uma proteção.
O medo de sentir qualquer algo mais forte me destrói muito mais do que senti-lo. O sofrimento de não sofrer é infinitas vezes maior. É o limite entre vida e sobrevida.
A verdade é que muito me acostumei nessa sozinhez, mas comecei a ter medo dos pensamentos que surgiram em mim.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Pensamos em situações e contextos para que de alguma forma exista uma organização em tudo o que estamos pensando, porque assim, cria-se uma expectativa de que tudo aquilo que você pensa seja exposto de forma atraente ao outro. Nem importa se o que sentimos é dessa forma mesmo, pode até ser inventado, mas queremos ser vistos.
Escolhemos as palavras e as colocamos nos lugares certos. Alguns erros são até bem aceitos, questão de personalidade.

Um grande circo sentimental.






sábado, 3 de dezembro de 2011

E já tem tanta terra em cima de mim, que já não sei se cavoco para cima ou para baixo. Mas pra qualquer lado é só terra. Eu só queria poder ficar parada, pois tenho um cansaço acumulado que protesta em todos os meus músculos. Eu só queria ficar parada e pensar um jeito melhor de sair daqui, mas tenho medo do escuro.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Sem título

Não são, ainda
mas vão, com toda certeza
Mas se não vão, mantenho que não são
É preciso estar pra ser, ou ao contrário?
O caminho é ir, ou fazer?
Quem constrói, o ser?
Quem julga,eu?
Se forem eles, fico só, pensando o que ou pra onde?
E se tu aparece na linha de baixo
Posso pensar que depois dele, seremos nós?
Ainda cabemos na mesma frase?

Revanche

- Olha queridinha, não me olhe dessa forma, como se fosse um absurdo o que estou falando, porque às escondidas eu sei que, assim como eu, você adora cair com a boca em um pau.

Piscou meio incrédula com a afirmação, mais pelo choque de ter sido descoberta do que com o que foi dito. E agora, como zelar o que havia construído para si, se esta estrutura mostrara-se tão frágil diante da naturalidade?

sábado, 5 de novembro de 2011

Da busca

Hoje acordei com vontade de escrever algo bonito.
Queria contar como me sinto, mas já desisti porque sofro de auto sabotagem. Eu tenho alguma coisa com relação a felicidade, que eu sempre acho que não mereço estar bem. Terapia, corre pra ela, mas sentar e pensar em angústias é o que eu faço de melhor. Senhor, o mundo me angustia, a existência me causa tal problema que sonho constantemente em ser uma planta. Falando em sonhos tive um sonho muito maluco, onde, em uma roda enorme, várias pessoas contavam seus problemas, e com todos eles eu me identificava, mas o das pessoas eram super potencializados, e então eu me sentia mal por me sentir mal diante do quadro deles, mal e frustrada, afinal, o sonho era meu! Eu deveria ser a vítima, não é? Meu sonho, atenção pra mim. Meu terapeuta dizia ( e nele eu acredito, piamente, como uma entidade superior que veio me guiar, amém), que todas as pessoas que aparecem em nossos sonhos somos nós, dentro de uma faceta, ou personalidade, ou sei lá o que, que não acessamos acordados, ou algo parecido com isso. Não prestei real atenção no resto da frase, gosto muito de saber que sou eu, e eu e eu, afinal era só o que me faltava, ser coadjuvante até no meu sonho. Enfim, complexo de maria madalena, preciso de muita atenção pra me sentir bem, então resolvi tentar um processo contrário:
Sozinhez. Ou o máximo dela. Comecei a fazer caminhadas sozinha, sem música, sem livros. Estar em espaços fechados sozinha, pouco conversar, pouco contatar. Me percebi respirando atônita, e um corpo que anda um tanto destrambelhado e aflito, e juro, desespero é latente e visível. Sabe aquele sonho de ser planta? Pois é, descobri que sou quase. Penso muito, de maneira negativa pois é um pensar inerte ( Newton, sabe?), atravanquei meu caminho com pilhas de coisas, que eu, só eu posso limpar. E eu preciso estar sozinha, acho. Tem gente que a gente gruda que nem encosto ( exu, vampiro, demônio), e o ruim é quando você se percebe esta entidade maligna, mesmo que inconsciente. Pra não apanhar de espada de São Jorge, corto o cordão umbilical.Um por um. Amor sufoca, se doente. Eu estou doente.

Quarentena...

Hoje eu acordei com vontade de escrever algo bonito. Pensei no meu sonho, pensei no meu dia, pensei no que eu vi, pensei no parque, pensei em mim. A indiferença é minha.

Diagnóstico: Eu sofro de descrença.

Eu presto atenção na minha respiração. É pequeno, mas vital pra me lembrar que eu pertenço aqui ainda.

O bonito: Alguma coisa em mim ainda resiste, em algum lugar. No meio do caminho eu vi um ninho de passarinho, com um monte de passarinho, eu chorei, escondidinha e DISCRETA. Tem coisas que ainda insistem em nascer...
Está faltando eu, e já me mostro bem atrasada.


quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Da perda

Tinha um bichinho o qual amava muito. O guardava no peito, para carregá-lo junto comigo pois sofria na sua ausência. O apertava sempre com muita força contra meu peito, querendo que ele entrasse dentro de mim, até que um dia, num acesso de amor eu matei meu bichinho sufocado. Eu percebia seu incômodo, mas o amava muito para soltá-lo. Cuidei com sofreguidão daquele corpinho aplastado, e dormi as primeiras noites com ele do meu lado, achando que se ele me ouvisse chorar ele desistiria de morrer, e voltaria barulhento.

Mas não veio.

Vencida eu enterrei meu bichinho no canteiro do jardim. Cavei com uma colher a tarde toda aquela terra posta articialmente dentro de uma caixa de cimento, cavei até criar um espaço bem maior do que o corpo do bichinho, pois o via muito grande, de verdade. Embrulhei-o em um paninho que usava no cabelo e joguei terra por cima. Joguei flores por cima. Deitei meu corpo por cima como uma viúva prematura, experimentei a terra da qual ele fazia parte, pois era a forma que eu encontrei de ele estar dentro de mim.

Tempos depois nasceu um matinho aonde eu enterrei meu bichinho. Com uma alegria que mal cabia no meu corpo, eu explodi de emoção e comecei a colhe-los. Ele deve ter ficado bravo no começo, mas me ouviu chorar e encontrou forma de desmorrer. Colhi todo aquele corpo novo do bichinho, para ele estar perto de mim.

Anoiteceu.

E encontrei as mudas mortas em cima da mesinha. Devolvi da onde nunca deveria ter tirado.
Nunca mais iria fazer parte de mim.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Chegou naquela pressa em meio a entre sorrisos de desculpas por não acompanhá-los. Fazia sem um pingo de remorso, e com um pouco de pressa, pois já começavam aquelas borboletas costumeiras do pré-encontro que ás vezes escapam, quando ela distraída olhava pela janela do metrô. Fazia Sol ainda.
Chegou em tempo, naquele passo alegre de quando os caminhos se abrem em flores, cantarolou, prendeu os cabelos com meias tranças assimétricas e cuidadosamente marcou os olhos. Foi no meio de uma dança que o horário gritou avisando que já havia pouco tempo terreno talvez, mas havia um universo no espaço de seus braços, ou pelo menos achava.
Da sua boca, escapou a primeira borboleta negra, empurrando-se com esforço para fora, dando o sinal do primeiro erro. Ela parece sempre fadada ao erro. Veio a borboleta e pousou no seu peito, abrindo suas asas vagarosamente, negra até a última penugem de seu corpo, instalou-se nela como se quisesse voltar, mas esquecera o caminho. Seus olhos pesados acompanharam o ritmo das asinhas, e depois de um longo momento, quando abertos de volta forçados pela aflição da espera só queria ficar quieta.

Pausa.

Sentiu as borboletas, uma a uma, irem caindo e batendo nas paredes do estômago com um peso estranho. Aquele meio sorriso agora eram olhos apertados ansiando por um chamado. É incrível como o universo sente o desespero, porque de tantos, ninguém podia se encontrar hoje.

Desconexão - ausência de sintonia, espaços amplos a serem percorridos sem força, pretensões secundárias.

Pausa.

Surgem então os questionamentos sem nexo, e a felicidade nela começava a ser tornar escassa. Era feliz no caminho pra casa, mas não podia mais estar lá, e não conseguia ir para outro lugar. Era feliz nos meios tempos de suas possibilidades infantis. Sonhava feito menina.

Pausa.

Alguém escuta, e ela se faz estática. Seu rosto vai ficando molhado aos poucos.

Só queria lembrar que ela estava muito bonita...

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Sem título

Estou sempre clamando por alguém que desconheço, e deixando que minha vida seja controlada por alguém que nem sei se existe, pois é muito duro atribuir-se a responsabilidade de tudo o que acontece, muito duro...

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Sem título

Suave me chega
e repousa sobre mim
sua respiração arfante.
Atento.

Faz uma varredura em meu corpo, seus olhos aguados
Não ponha a sua boca em mim, penso, quando sua língua invade e rompe meus lábios cerrados
se encostam, movimentando-se no céu baixo.

Rompe esta dor, que se faz tão sólida
desflora as partes que me são secas, cuida
o que em mim é outono. Colhe as folhas e guarda

Numa caixa, como um tesouro, desses que a gente junta no caminho
tira a boca de mim, tira rápido
e só segura minha mão.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Sem título

Ás vezes a noite ficava da janela espreitando se havia luz no teu quarto
e quando não, imaginava teu corpinho quente embaixo do afago do cobertor
que será que faz este quando não está comigo?
Sonha, come, chora, escuta, dança, pula, sofre, se amargura, bebe, cheira, grita, estranha, dorme, acorda, lê, se isola, teima, ri, desfruta, desflora, desaparece, cantarola, assobia, se cansa
de tantas coisas que poderia estar fazendo...

Fechava a janela e me encabrunhava feito gato deitada
sempre me escapavam lágrimas
Eu te amo, e não sei como faz.

Da espera

Eu sou da turma dos aflitos, dos bem aflitos. Existe uma ânsia muito forte pra que as coisas aconteçam, e apesar da paciência que se faz aparente, é mais fácil chamá-la de espera. Paciência é para aqueles que acreditam que as coisas irão acontecer no seu tempo certo e devido, que é algo que eu acredito mas não respeito. Essa é a espera. O acaso é um tanto caprichoso, as coisas acontecem quando você está tagarelando e olhando para os lados sem pretensão nenhuma. É uma atenção desatenta. É mais ou menos esperar o relógio se mover olhando pra ele, e o tempo passa a ser infinito. Na distração, ele passou. A espera é bem hostil, ela te come aos poucos, e quando as coisas acontecem você já não tem nada pra recebê-las, porque criou-se um oco, e na ânsia, de mostrar e fazer tudo que você esperou, de ser capaz de receber tudo, nada mais se encaixa, porque não há lugar, ou porque sobra, dentro daquele vazio, e você quer, de coração se recompor, mas cadê seu coração?
E a dor que você sente por isso, você causa, para aquilo que você mais esperou, e este é o grande ato final. Fere quem já foi ferido, infelizmente é um desses gordos clichês verdadeiros. Não de propósito, mas é a ânsia desses aflitos, tão presente e tão hostil. E o mais irônico, para o começo desse novo ato é que, não há muito o que fazer, a não ser esperar a passagem do tempo, tentando adquirir paciência e acreditando, Senhor, acreditando que tudo acontece por algum motivo, e as coisas se renovam, ou se entendem, ou qualquer coisa que não me deixe ficar olhando o relógio.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Estava lendo tudo que está escrito aqui e pensei - Senhor! Que esquizofrênia!
Ai lembrei que era tudo meu...

Da fluidez das coisas

"Não compreendera ainda até que ponto os dias podiam ser, ao mesmo tempo, curtos e longos. Longos para viver, sem dúvida, mas de tal modo distendidos que acabavam por se sobrepor uns aos outros e por perder o nome."
Albert Camus


As coisas andam tão rápidas. Escrevo e não reconheço minha letra, ando e não reconheço meu passo, me vejo e meu rosto apresenta as primeiras marcas escavadas de um tempo que passa tão depressa. E eu nem vi. Um dia acordei e me percebi deitada em um descampado. Foi tudo tão rápido que eu esqueci de cultivar alguma coisa naquele espaço, uma mínima margarida. Mínima, não mísera, pois flores nunca são míseras. E esse espaço vazio já faz tão parte de mim que nem lembro quando deveria ter começado a plantar algo. Não sei nem ainda se é possível, pois sabe, as coisas andam tão rápidas que sua fluídez me levaria a pensar em outra coisa, e esqueceria, acho.
Poucas vezes como uma brincadeira do acaso, nesses espaços rápidos, eu dou de encontro comigo. É o único momento em que elimino a passagem do tempo, e num entrecruzado de ações quase me atinjo. E por esta pretensão de chegar a mim de forma rápida e atônita, é que o tempo se restabelece e me perco de novo na rapidez.
Precisava tanto dar de encontro comigo. Iniciar um processo de cultivo, plantando a primeira centelha criadora em mim - A minha ocupação em algum lugar do espaço, onde a passagem do tempo não me assuste, me agarrando na certeza de algo semelhante a vida.

sábado, 10 de setembro de 2011

Ai se essas lágrimas que me escapam fossem suficientes para acalmar essa dor que me abrasa o peito.

domingo, 28 de agosto de 2011

Para vocês, lembranças

Venho por meio deste, informar-lhes que já não as quero em mim. Pretendo a partir daqui esquecê-las, pois assim talvez possa ser tranquila.
Não necessito de nada que me lembre que já fui menos torta ou errante do que sou hoje. Não preciso, e não quero vocês - a causa de minha melancolia e falta de ar.
Saber que vocês fazem parte de mim é o que mais me dói. E é uma dor tão grande, que se a pudesse materializar, poderia dividi-la em milhões, zilhões de pedaços e espalhá-las por todo o espaço, regalar uma pra cada pessoa, uma recordação minha pra eu não ter que me lembrar mais.
Então é isso, não as quero mais. Não apareçam em meus sonhos como prova de uma saudade reprimida e contida. Não as quero.
Claro, não significa que não irão fazer falta, mas caso vocês estejam, obrigatoriamente terei que lembrar de mim, e eu não quero.
Então, me despeço, para que eu possa me esquecer assim.
Talvez, talvez, desse jeito minha dor diminua e meu ar volte. E se vocês forem, nem me lembrarei que um dia doeu.













Mentira.

sábado, 20 de agosto de 2011

"...deixa o céu à esperança apenas, com os dedos trêmulos cerro teus lábios, não a diga..."
Clarice Lispector

Me fitava seriamente com o coração tão vazio de mim. E na expectativa de achar-me naquele corpo, me esvaziava para tentar preencher aquele espaço que eu não fazia parte.
Você se levantou e saiu.
Me deixou com o vazio de mim em você, e o meu esvaziamento de mim.

domingo, 3 de julho de 2011

É certo que aquele fio esperançoso se rompeu feito remendos de roupa velha. Mas eu gosto muito dessa roupa, então eu a coloco na gaveta por recordação só. Há espaço, então eu guardo com carinho, e espremo de alguma maneira o novo nessa mesma gaveta. Ainda insisto em vesti-la, sabe aquela saudade? E fico no espelho lembrando de como ela caia bem, mas os fios, pobres, todos gastos, até mesmo aquele filete pendendo melancólico desprovido de sua função de agasalho. Ai eu tiro e guardo de volta, até a hora que a gaveta se sature, e as peças protestem desesperadas por espaços. Ai, como sempre, vou começar a colocá-las em qualquer buraco do armário, em cima de cadeiras e no pé da cama. As novas. A remendada fica ali, afinal, não sobram opções além destas
a) Guardá-la e que ela ocupe espaço pra sempre; b) tentar remendar e dar uma solução porca para aquilo que já foi desfeito; c) doá-la, doar algo roto para alguém e por carência, aquele pedaço que falta não fará diferença, antes meio do que nada, não é assim que ensinaram? Não é? A ter pela metade? Poderia tentar remanejar onde por o que, mas está tudo tão bagunçado que me dá preguiça. Sem contar que é uma surpresa, estendo o braço, pinço com o dedo e olhe só! Resgato algo, que provavelmente me entendie, não entendo o novo. Gosto de olhar, mas me seguro em fios rotos e os puxo até eles se desfazerem. No final das contas sou um corpo nu sentado no piso do quarto, as roupas velhas estão desfaceladas e não são suficientes, e as novas não me vestem.

sábado, 2 de julho de 2011

E ai surge aquele incômodo. Começa pelo estômago e se revira, enquanto o resto do corpo se mantém naquela espera, totalmente significada pelos olhos. Fica por favor, ou pede pra eu ficar. Mas não de qualquer jeito, por favor explode, como a minha vontade de explodir no meio dessa espera incômoda. Chega. Senta, aqui do meu lado, e fica. Eu juro, que não existe nada além disso. A vida inteira não passa de sonho, então fica aqui, entra, rompe com esse incômodo com a mesma força com que ele se instalou e me acompanha, pra qualquer lugar, e não me deixa ir. Grita, por favor pra eu ficar, que de leve eu me encaixo no seu corpo.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

É pensando em coisas impossíveis que me mantenho alegre, mas quando o divido, e percebo a sua finitude perante o mundo, desmorono.

domingo, 12 de junho de 2011

Tem quem diga que é terrível gostar demais. Sei lá. Acho bem pior gostar de menos.

Tudo

Agora era tudo. Não era o máximo estar sentada ali, na verdade era pesado, era cheio. Ao contrário do esvaziamento, eu passei a ser preenchida, com tanta, tanta força que eu achei que a qualquer momento eu ia desfazer, e escorrer pelo piso, e manchar chão, parede teto, porque ia explodir tudo pra todos os lados. E era todo um peso concentrado naquele estar sentado, e desesperador, porque estava prestes a estourar e todas as pessoas passando ao lado, e sentando, e fazendo qualquer coisa, e ninguém via ali um ser atônito, e existente, pois naquele momento eu existia mais do que nunca, e tudo e toda angústia se materializava de tal forma que senhor, era impossível ninguém se incomodar. Não era só estar sentado ali dessa vez, era existir com tamanha força, era estar presente com todas os orgãos com tal força que cada um seguia no seu ritmo, totalmente autônomos, e trabalhavam de forma exasperada. Os olhos a cada piscada era um alívio, tapa olho que deixava tudo escuro, e chamava aquele estado de coma, tão mais tão pedido naquele momento. Era o coração querendo explodir, um pulmão sufocado, e um estômago que gritava por vomitar, e ia vomitar todo o eu mesquinho que insistia tanto em se manifestar, e pedia tantas coisas, e tinha eu também, sentada, cheia naquela espera, eu sou só espera com orgãos reinvidicando, um eu prestes a ser vomitado, sentada atônita no meio da passagem, com uma presença mais forte do que nunca.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

nada

Era incrível. Dava vontade de ficar sentado o dia inteiro só olhando. E fazia muito sol, muito sol, e a cidade estava fria, muito fria. Mas estar sentado ali, era incrível. O sol varria o frio, mesmo aquele que insistia em surgir de dentro, ia derretendo de pouquinho. Dava vontade de ficar horas, meses, anos só ali, sentado, pois era incrível. Era um não estar estando tão completo. Porque eu estava aqui e lá, quente na cidade fria.
Era um não pensar delicioso, olhando aquilo, divino. Não amava, não pensava, não sentia, era um grande nada pronto a ser preenchido, por qualquer coisa. E ser qualquer coisa era fantástico. Você entende de tudo, tudinho um pouco de tudo que existe, pois tudo passou ali, num instante, carregando e descarregando tudo. E era só estar ali, sentado. Era algo parecido com não conter. Não tinha corpo. O coração explodiu, a língua pronta a desenvolver um vocabulário novo. Novos olhos é o mais incrível, olhar de novo, e de novo e ser tudo diferente a cada piscadela. O piscar sendo pausa para digerir novas imagens, e não uma fuga mínima de si. Não fugir é o máximo! Pois não existe eu, você, nada. Só aquele instante, de estar sentado, e ficar olhando o dia inteiro só. Incrível.

sábado, 28 de maio de 2011

Não pensei em título nenhum hoje.

Tenho tido dias atípicos, é verdade. Não por algo extraordinário, mas porque alguma coisa dentro de mim mudou. Na verdade ela já está quase reformulada, mas eu demorei muito tempo para me dar conta dela. Simplesmente porque dentro de tantas neuroses, eu não me dou conta de mim.

Sempre achei gente muito feliz burra. Entretanto, inteligente sou eu, que vivo deprimida? Ai, sempre vem aquele discurso clássico “As pessoas felizes são aquelas que não enxergam o que acontece no mundo”. Bom, eu enxergo, ou acho que enxergo, e isso não muda muito né? Afinal, estou deprimida demais pra tentar fazer qualquer coisa. E não nos deprimimos pelo mundo, nos enternecemos algumas vezes por algumas tragédias, mas passa, porque terminamos de ocupar nosso bode diário com alguma aflição nossa, vinda de hábitos que adquirimos.

Hoje acordei, vi um filme, vi dois. Quando ia pro terceiro, decidi me exercitar, pois isso é algo que eu sempre faço, exercício. No meio dele, tive uma crise de choro, pois aquilo que eu estava fazendo não tinha o mínimo sentido. Há anos eu faço milhões de exercício, minha barriga é rasgadinha, e só hoje eu fui perceber. É um ato totalmente vazio, que não sei pra que ou pra quem eu o faço, porque no final dá na mesma, nunca está bom. Mas também não posso ficar sem fazer, senão são milhões de vozes na minha cabeça me lembrando que eu vou engordar, vou lotar de celulites e todas as outras coisas que vem junto. E engraçado, que não é uma coisa que eu me preocupe muito nos outros, na verdade acho que não faz diferença. Mas eu? Eu tenho que me manter impecável, bonitinha, uma boneca. Faço diversas coisas diariamente que não fazem o mínimo sentido. Escondo-me diariamente atrás de um boneca. E boneca o ser inanimado. Pois até para sentir eu tenho dificuldade. Se não for algo extremo, assim, que arregace essa casca, eu não retiro a minha proteção. E Deus, eu tento. Mesmo. Sou apaixonada, muito apaixonada, mas não é algo gostoso, pois eu reluto todo dia a sentir isso, eu não me permito. Pois, é explodir com toda a estrutura montada, e me mostrar uma total débil extremamente sentimental. Eu Deus, eu amo muito.

Todos têm sua ‘bolha’ particular, mas permitir que ela atrapalhe o contato com algo real? Longe daqui de querer discutir o conceito de realidade, mas o que tomo como real, é o sentido da troca, da experiência, um sentir nato onde as energias se entrelaçam. Participo de poucos e deixo poucas pessoas participarem.

Ah! E claro, não esquecendo o maior dos hábitos, que é um erro quase geral. O do esvaziamento. Nos colocamos na frente do outro vazios, esperando que ele nos preencha, como se nada tivéssemos para oferecer. É um tanto egoísta não? Tanto com o outro, quanto conosco de não querermos partilhar. O anulamento próprio em função do outro. Com isso nada se aprende, nada se muda. Se ambos tiverem a mesma idéia, serão dois espaços vazios. Se só um tiver a idéia, não fará a mínima diferença, afinal o conteúdo será o mesmo pros dois.

Uma vez, me chamaram de mosca morta, e eu fiquei puta. Putíssima. Não com a pessoa, mas por mim, porque é verdade. Eu tenho medo, muito medo. Mas enquanto eu me guardo, pra algo que nem eu sei o que é, a vida passa, e rápido. É clichê mas funciona. Eu amo dançar, e infelizmente carreira em dança precisa começar cedo. Eu sou travadíssima por medo. Eu tenho medo da minha paixão. E o tempo passa, e juro, não quero ser dessas velhinhas que saem no jornal que começaram a dançar velhas e são exemplo de vitalidade aos 80. Eu quero isso agora, enquanto meu corpo não me limita. Engraçado, que quando não estou noiada, ele faz coisas ótimas. Se essa dicotomia corpo e alma for real, pobre do meu corpo, que se debilitou por uma alma totalmente problemática e nhé-nhé. Taí uma definição ótima nhé-nhé.

Talvez tenha pego referências erradas. Desde os 13 anos, gosto de ler tudo que cultue a morte. Costumo me identificar sempre com os deprimidos, esquisitos e muito com os coadjuvantes. E ai, acho que me acostumei a não querer conduzir nada, a não optar muito, e agora estou aqui, me expondo ridiculamente porque cheguei em um limite.

Engraçado, eu gosto de escrever, muito, e não estava conseguindo, pois qualquer ato artístico tem obrigação de ser sentido, e como disse, eu ando com problemas nessa questão, hahaha.

Mas hoje, hoje eu quebrei o hábito.