sexta-feira, 4 de abril de 2014

Je t´aime Mon amour

Eu costumava gostar mais do Romeu aos 9, mas é um fato que filmes de romance ainda me fazem chorar e acreditar em uma série de situações descabidas. Adoro um drama. Adoro desencontros escabrosos regados a um sofrimento intenso, gestos trágicos, frases impactantes e jogadas de cabelo colossais enquanto o outro lhe observa ir andando. Acho um charme, mas é muito difícil ser charmosa em São Paulo. Outro dia desci de um carro no meu melhor estilo "Não baby, nós nunca tivemos Paris, nem Texas, nem Viena nem nada", joguei meu chale para trás mas tropecei na guia, bati a canela no poste e ganhei um puta roxo. Sem contar as risadas diante dessa construção de cena patética. Não me sobrou nada além de juntar meu resto de dignidade, dar um sorrisinho de "não me importo" e ir embora.  Deveriam existir cortes nesses momentos, mas é isso, cenas funcionam em filmes. O Humphrey Bogart era menor que a Ingrid Bergman, e na icônica cena de despedida dos dois ele estava em cima de um banquinho, mas isso não mostram. Assim como não mostram nenhuma atriz pornô se engasgando enquanto...trabalham. Enfim, é o tipo de coisa que deviam nos alertar, sabe, para não gerar expectativas e para que não nos tornemos megalomaníacos com situações simples. Pois, sem os cortes, a direção, a maquiagem e as roupas muito legais, nos tornamos apenas uma cópia de carbono manchado de algo que é, na sua essência, ficcional. Minto, não sei se ficcional, mas um ponto de vista um tantinho descolado: uma ideia, recorte, representação, sei lá como chamar. Lembro de quando li Sonhos de uma noite de verão, e que, dentro da história, tinha um grupo de teatro que queria fazer uma peça, e enquanto apresentavam ficavam avisando o público que aquilo era só representação, que eles não eram quem diziam ser, eram apenas personagens, então, para que não confundissem. Li esse livro com 11 anos e lembro de achar muita graça para a advertência dos atores, pois me parecia óbvio. Hoje tenho exatamente o dobro da idade e, ironicamente, constato que era uma advertência realmente plausível. Sábio Shakespeare: inventou toda aquela baboseira romântica, mas lembrou de alertar que era...invenção.

terça-feira, 1 de abril de 2014

Criança brincando no jardim

Criança. Era uma criança brincando no jardim.
Uma criança brincando no jardim protegida
protegida por uma máscara
ou algo do tipo
qualquer coisa do tipo
uma máscara azul na cabeça careca
e branca
máscara focinheira
máscara hospitalar
máscara para sanarsalvarlivrar o pulmão
de ar tóxico.
Protegia sim, seu pulmão frágil
os brônquios alvéolos e capilares
talvez doentes
talvez ocos
talvez repletos
de ar do mundo, a parte quase limpa.
Brincava distraído sobre a grama
protegido
mas não podia cheirar flor.