O desenho é a utopia da produção. É a partir dele que o mundo se faz todo em possibilidades, as narrativas fantásticas tornam-se palpáveis, suficientes para encher os olhos e transportar a quem assiste para o absurdo. A arte contempla o improvável, haverá alguém que me diga o contrário? Propõe projetos que se utilizam de um esquema racional de cores e formas e que tentam conter em si o emaranhado do existir, a confirmação de um sujeito que enxerga, sente e participa do mundo.
Possui personalidade dúbia, o desenho - É o desejo de construção de um mundo novo pautado no conhecido. Está no campo da memória e do afeto, tem algo de ideológico no fundo, como um ato transformador. É frágil, suspenso, é um sonho vivido, seja na busca do traço ideal ou na confusão de linhas.
É a vontade de inventar. Um registro efetivo de si no mundo. Impressões anotadas, pois, buscamos de todas as formas continuar nele. Somos mortos conversando com mortos, a nossa questão é quando. E enquanto isso não se responde, desenhamos - lugares, pessoas, amores.
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013
Algumas linhas e uma pergunta
E qual a razão de estar
Se não a de amar e ser amado?
E de que adiantaria um outro algo
se em curto tempo desmancha
escapa em um desvario
e a tentativa da fala se abafa
com um punhado de terra na boca.
Mas há ainda quem insista
que na verdade, a vida não há
o que existe é algo similar
questão filosófica.
E quando esta não for suficiente
experimente um punhado de açúcar
bem na ponta da língua
do outro
escorregando, úmida
rompendo o resguardo dos dentes
adentrando o espaço perto do céu
preenchendo a boca do mundo
um copo espatifa no chão.
Se não a de amar e ser amado?
E de que adiantaria um outro algo
se em curto tempo desmancha
escapa em um desvario
e a tentativa da fala se abafa
com um punhado de terra na boca.
Mas há ainda quem insista
que na verdade, a vida não há
o que existe é algo similar
questão filosófica.
E quando esta não for suficiente
experimente um punhado de açúcar
bem na ponta da língua
do outro
escorregando, úmida
rompendo o resguardo dos dentes
adentrando o espaço perto do céu
preenchendo a boca do mundo
um copo espatifa no chão.
Anotações
Hoje acordei com o peito um pouco mais pesado que nos últimos dias, com uma vontade de choro infantil, daqueles que se acalmam com colo, com a cabeça encostada no peito de alguém ouvindo as batidas do coração. Mas não quero pedir nada agora. Estou aprendendo a manter o silêncio das vozes em mim, até para me escutar melhor. Tenho mania de dar preferência para que os outros dizem, e esqueço que a minha opinião nem sempre me atrapalha.
Outro dia aprendi uma palavra nova: Peripatético. É um termo aristotélico, que tem o sentido de se aprender andando. Vou falar menos e andar mais. Ganhar mundo mesmo, para ver se acalmo o peito até que a vontade de colo passe. Eu acho que é o medo de querer ser. Vai que realmente a vontade se torna algo. Tem que parir e bancar depois.
Outro dia aprendi uma palavra nova: Peripatético. É um termo aristotélico, que tem o sentido de se aprender andando. Vou falar menos e andar mais. Ganhar mundo mesmo, para ver se acalmo o peito até que a vontade de colo passe. Eu acho que é o medo de querer ser. Vai que realmente a vontade se torna algo. Tem que parir e bancar depois.
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013
Com açúcar
O amor no claro é sempre triste
vaga solitário
no meio de tantos outros.
Mas não resista
não deseje prematura morte
nem se machuque mais do que já está
machucado.
Ninguém nunca sabe a hora
que desatina a doer
mas lhe garanto: é pontual
Aperta e passa. Nem sempre.
Ás vezes tem que fingir que a gente esqueceu
e ninguém sabe
só a gente. Dentro da gente
no escuro
que ele insistentemente se faz presente.
Mas não conte nada.
vaga solitário
no meio de tantos outros.
Mas não resista
não deseje prematura morte
nem se machuque mais do que já está
machucado.
Ninguém nunca sabe a hora
que desatina a doer
mas lhe garanto: é pontual
Aperta e passa. Nem sempre.
Ás vezes tem que fingir que a gente esqueceu
e ninguém sabe
só a gente. Dentro da gente
no escuro
que ele insistentemente se faz presente.
Mas não conte nada.
domingo, 10 de fevereiro de 2013
Versos para um quarto escuro
Hoje é para ti que escrevo
e para seu suave aconchego
cúmplice de tudo que
em desatino ou em gemido
me viu abafar no travesseiro.
Um rabisco na parede
uma foto pendurada
uma cama, que já não se faz tão vasta
a este corpo, que cresceu dormindo em seu colchão
me espia.
Junto infinitas coisas em um canto
são cartas, desenhos, memórias
algo de mim que se fez matéria
mas já não entendo
porque já não sou aquilo, nem isso
Sou qualquer coisa
que se fez longe do teu espaço
e que trouxe pra casa
e costurei no corpo
estranho é perceber que aqui, nunca houve espelho
e foi sempre entre suas paredes
que me fiz inteira, o suficiente
para não me fazer
ressentida com o mundo
sozinha aqui, era tudo o que precisava de mim.
e para seu suave aconchego
cúmplice de tudo que
em desatino ou em gemido
me viu abafar no travesseiro.
Um rabisco na parede
uma foto pendurada
uma cama, que já não se faz tão vasta
a este corpo, que cresceu dormindo em seu colchão
me espia.
Junto infinitas coisas em um canto
são cartas, desenhos, memórias
algo de mim que se fez matéria
mas já não entendo
porque já não sou aquilo, nem isso
Sou qualquer coisa
que se fez longe do teu espaço
e que trouxe pra casa
e costurei no corpo
estranho é perceber que aqui, nunca houve espelho
e foi sempre entre suas paredes
que me fiz inteira, o suficiente
para não me fazer
ressentida com o mundo
sozinha aqui, era tudo o que precisava de mim.
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013
Do milagre que não sou eu
A coisa é: em algum momento da vida, e pode ter certeza que esse momento é uma das poucas coisas certeiras, nos depararemos com as seguintes palavras - catarse e epifania. Alguns se demorarão em suas letras, tentando extrair das sílabas alguma explicação significativa; outros farão suposições e outros passarão reto por elas e talvez nem se apercebam da existência dessas palavras, e quando as escutarem de volta farão aquela cara de "hãn" e o instante passa. Para quem se interessa, o significado delas, segundo o dicionário:
catarse: 1. Purgação 2. Purificação 3. Método de purificação mental que consiste em revocar à consciência os estados afetivos recalcados, para aliviar o doente dos arranjos físicos e mentais oriundos do recalcamento.
epifania: Manifestação de Jesus Cristo aos gentios na pessoa dos Reis Magos que o vieram adorar. Comemorava-se este acontecimento como a festa litúrgica da epifania.
Parecem estranhas quando olhadas desta maneira, mas foram emprestados a estas palavras significados além dos seus originais. Podem estar associadas à revelações e transformações ocorridas a alguém por conta de um acontecimento. Esse sentimento repentino, mesmo que passageiro, de finalmente ter compreendido a essência de algo, de ter conseguido finalmente visualizar o "todo", que ninguém sabe explicar o que é, mas sente.
Uma dúvida frequente em mim, é de como nos damos conta de ter vivido uma experiência desta, pois, sentimos tantas coisas ao mesmo tempo e somos estimulados por tantas formas, que eu tinha medo de que isso acontecesse e eu não percebesse. Ou então caía em um erro constante de minha pessoa: que tudo só é sincero se nos sentirmos arrebatados - o sentir pela dor, pela falta de ar. Ora, e depois falava de estar em paz. Vai entender...
Antes, podia citar vários momentos em que achei que pudesse ter vivido uma destas sensações, e talvez até tenha, mas nada como a história que vou contar agora.
No final do ano fui para Minas Gerais sozinha. Queria conhecer Inhotim ( um museu de arte contemporânea à céu aberto), aluguei uma pousada no meio do mato, e de lá, entre ônibus demorados e caronas me virava para ir de um lugar para o outro. A gente sempre conhece muita gente boa com esse tipo de coisa, ouve histórias, facilita uma disposição para trocas. Mas isso é fácil também quando o espaço é algo conhecido, te mantém na zona de conforto - as pessoas que estariam lá, seriam pessoas minimamente interessadas em arte como eu, então, entre um sorriso e outro, as coisas se facilitariam para a aproximação. No terceiro dia de viagem decidi que iria para Belo Horizonte, peguei um ônibus que passava em intervalos de 5 horas - saí às duas e teria que estar no ponto dele em BH religiosamente às sete horas, pois era o último do dia. Fui. Andei pela cidade, dei uma volta, comi, fui no cinema, fui olhar livros ( que os mineiros separam a seção literária entre escritores brasileiros e escritores mineiros), e, com uma pontualidade digna de inglês, lá estava eu no ponto às sete, e lá estava o ônibus. No duro, a estrada para ir de BH para Córrego Ferreira, que era onde eu estava, era simplesmente incrível. Descia-se toda a serra, e lá de cima podia-se ver aquele mar de morros e umas cidadezinhas bem pequenas ali pelo meio. Era incrível e demorado, mas o incômodo se fazia insignificante diante da vista que se tinha do ônibus. Fui ficando embriagada de beleza, mesmo, nunca tinha visto nada igual, e foi escurecendo, e comecei a conversar com uma senhorinha, e anoiteceu, e eu ficava olhando a estrada, foi ficando mais escuro e já não dava pra ver nada direito, até que, depois de quase três horas, me dei conta de que havia perdido o ponto, e pior, não só o ponto como a cidade! Devo ter feito uma cara de merda tão fenomenal, mais tão fenomenal que uma outra senhora começou a perguntar se estava tudo bem comigo. Bom, estava em um lugar no meio da Serra, não conhecia nada, não tinha pra quem ligar, minhas coisas estavam na pousada, o último ônibus era o que eu estava, não tinha como voltar a não ser a pé por uma estrada de terra com pouca iluminação, e no meio de um nariz fungado de choro não tinha como disfarçar que não, não estava tudo bem. Sei lá o que deu na cabeça dessa senhora, ela disse que podia me ajudar, que conhecia o lugar que eu estava e que podia me dar uma carona, mas antes teria que acompanhá-la a um compromisso inadiável. Merda por merda eu fui, e não é que o compromisso era o culto? Porra, justo um culto! Nem lembrava qual tinha sido a última vez que tinha visto uma missa, muito menos um culto e surgiu então aquele ranço. Mas, como não tinha solução melhor, sentei no banco e comecei a escutar. Minto, muito mal disposta comecei a lamentar o infortúnio. Saí para andar em volta, mas, em respeito a senhora que me levara com tão boa intenção resolvi que ia sentar e ficar quieta. Do meu lado, havia um senhor, muito muito compenetrado no que dizia a pastora, acreditava mesmo, era bonito de olhar, nossa, aqueles olhos aguados de gente que parece que está realmente entendendo as coisas. Mas tinha grande dificuldade em procurar as passagens bíblicas, e para que ele não perdesse a compenetração dele, me ofereci para buscar. Primeiro quis rir, mas lembrei que eu sabia fazer aquilo - apesar de minha postura diante a religião ser crítica, fiz catequese e tudo bonitinho. E ele ficou feliz. Com isso só. Não sei o que me deu, que resolvi prestar atenção, finalmente, na pregação. E era bonita, tirando os excessos cometidos por um fervor religioso, era bem bonita, na verdade. Bonita demais. Falava sobre como temos que ter disciplina diante das nossas escolhas, e força, muita força, para seguir com estas adiante, pois é um processo inicialmente dolorido, mas que te transforma quando algo é alcançado. Para ter fé, nas coisas que se escolhe, e se doar, integralmente nelas. Pronto, era isso. E são coisas que não são difíceis de se ouvir por ai, é quase uma filosofia de bolso, mas foi ali, em uma igrejinha, no meio do mato, evangélica, onde fui parar totalmente por acaso, de má vontade e levada por uma desconhecida, que estas palavras finalmente surtiram efeito. Havia um muro real em mim, que naquele momento abriu uma fenda. Primeiro, porque me fez ter uma vergonha sincera do meu posicionamento no mundo, pois trabalho como arte educadora, que lida muitas vezes com diversos paradigmas, e hipocritamente os meus não haviam sido rompidos, pois, se não fosse uma situação dessas, dificilmente acharia que aquelas pessoas teriam algo para me acrescentar. Outra coisa que pegou forte foi a gentileza, e não era fingida. As pessoas estavam felizes de estar ali e poderem compartilhar - eles não pediram dinheiro, em nenhum momento. E no final, a pastora veio conversar comigo e fui tida como um milagre " a menina que se perdeu, porque Deus tinha um plano para ela - que ela ouvisse a palavra Dele". Sei lá. Eu achei engraçado, gente doidona, vê milagre em tudo. Mas com uma leve pontada no peito, a constatação de que talvez fossem muito melhores que eu, que não vejo muita coisa em nada. Chegou a hora de ir embora, e não é que quem me deu a carona foi o pastor? Ele colocava um pessoal todo dentro de uma Kombi velha, e ia distribuindo todo mundo pelo caminho. E fazia isso para eles irem no culto também, com uma alegria imensa, pois tinha fé na escolha deles. Era um senhorzinho alto, bem caipira, com chapéu e tudo que adorava tomar café. Começou a me contar como chegou naquele lugar, que era do Mato Grosso, e quando jovem mudara-se para São Paulo para tentar a vida como compositor sertanejo, e no meio do negócio viu algo, que não me disse o que era, que o fez ter certeza que Deus existia. E que, a partir daquele momento, decidiu que iria pregar, e como em São Paulo já haviam muitas igrejas, tentaria cumprir com sua missão em um lugar mais inóspito. Ele e a pastora, que vê milagre em tudo. Nossa, aquilo me deixou louca, de verdade. Me deixou na porta da pousada, me deu um abraço, e foi embora com sua kombi.
Não conto aqui a história de uma conversão. Realmente, a questão da religião me põe um pouco tensa sempre. Quando voltei de viagem, as primeiras vezes que contei essa história, a passava como uma anedota. Mas, sempre vinha do fundo uma vontade de chorar, e que não era triste. Era uma emoção, não sei ao certo. Eu não era um milagre, decerto que não. Eles foram pra mim.
Eu sinceramente demorei para digerir a coisa toda, mas alguma coisa depois do acontecido mudou seriamente em mim. No duro, eu acho que sou uma pessoa que deu muito errado em vários aspectos, e não falo isso com melancolia, tem algo de cômico em tudo isso.Mas desde então, tem alguma parte minha que entrou no eixo de mim finalmente. E ela não mexe, nem escapa, nem dói. A centelha divino que eu vivo falando para os outros, o universo que possui lógica própria, os encontros e desencontros que provém de uma espiral, tudo o que eu sempre falei e agora vejo, que não sei se confiava tanto, começaram a ser mais sinceros em mim. E olha, essa coisa de se perder pra se encontrar, pode ser verdade. Talvez exista um Deus mesmo, e existam milagres, talvez seja só acreditar mesmo, não custa muito. E daí se for invenção? A coisa parece toda mágica quando se acha que existe. Desde então, não me senti mais sozinha, ou aflição por isso, mesmo. Ás vezes só penso que não seria legal. Não sanei muitas coisas, mas abri a fenda no muro. Sei lá. Respondi ao medo da possibilidade de ter uma epifania ou uma catarse e não percebê-la. Não sei se há uma linha que separa o antes e o depois, mas um dia você acorda e o mundo está muito diferente, e você está cheio.
Eu queria voltar naquela igrejinha qualquer dia, mas, sinceramente, não faço a mínima ideia de como chegar lá.
Não conto aqui a história de uma conversão. Realmente, a questão da religião me põe um pouco tensa sempre. Quando voltei de viagem, as primeiras vezes que contei essa história, a passava como uma anedota. Mas, sempre vinha do fundo uma vontade de chorar, e que não era triste. Era uma emoção, não sei ao certo. Eu não era um milagre, decerto que não. Eles foram pra mim.
Eu sinceramente demorei para digerir a coisa toda, mas alguma coisa depois do acontecido mudou seriamente em mim. No duro, eu acho que sou uma pessoa que deu muito errado em vários aspectos, e não falo isso com melancolia, tem algo de cômico em tudo isso.Mas desde então, tem alguma parte minha que entrou no eixo de mim finalmente. E ela não mexe, nem escapa, nem dói. A centelha divino que eu vivo falando para os outros, o universo que possui lógica própria, os encontros e desencontros que provém de uma espiral, tudo o que eu sempre falei e agora vejo, que não sei se confiava tanto, começaram a ser mais sinceros em mim. E olha, essa coisa de se perder pra se encontrar, pode ser verdade. Talvez exista um Deus mesmo, e existam milagres, talvez seja só acreditar mesmo, não custa muito. E daí se for invenção? A coisa parece toda mágica quando se acha que existe. Desde então, não me senti mais sozinha, ou aflição por isso, mesmo. Ás vezes só penso que não seria legal. Não sanei muitas coisas, mas abri a fenda no muro. Sei lá. Respondi ao medo da possibilidade de ter uma epifania ou uma catarse e não percebê-la. Não sei se há uma linha que separa o antes e o depois, mas um dia você acorda e o mundo está muito diferente, e você está cheio.
Eu queria voltar naquela igrejinha qualquer dia, mas, sinceramente, não faço a mínima ideia de como chegar lá.
domingo, 3 de fevereiro de 2013
Talvez, talvez
eu não seja o que você queira
mas, meu bem
não há nada
nada, em absoluto
que eu possa fazer por você
em relação à isso.
Posso te oferecer um cigarro, ou dois
enquanto você me olha
embaixo das flores do muro.
Mas, você entende, não?
que, eu
não posso ser nada
nada além daquilo que sou agora
escancarado na tua frente.
por você
só posso pedir
que goste de mim assim.
eu não seja o que você queira
mas, meu bem
não há nada
nada, em absoluto
que eu possa fazer por você
em relação à isso.
Posso te oferecer um cigarro, ou dois
enquanto você me olha
embaixo das flores do muro.
Mas, você entende, não?
que, eu
não posso ser nada
nada além daquilo que sou agora
escancarado na tua frente.
por você
só posso pedir
que goste de mim assim.
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013
E lá estava eu, parada com o prato na mão procurando uma mesa, sozinha. O restaurante estava cheio, barulhento, então acabava que tínhamos que dividir a mesa com pessoas que não conhecíamos, pedir licença e todas essas coisas pra sentar enquanto elas conversavam com seus acompanhantes. E foi isso que eu fiz, caminhei por entre aquele mundo de gente, tudo por causa da fome, miserável fome, e agora tinha que procurar um lugar vago. Um apenas, nem tinha que me preocupar de não me separar de ninguém, pois estava comigo, logo eu, que duvido de minha companhia, metida em um inferno tão formidável como este.
Lembrei então que tinha um par, tão solitário quanto eu. Sempre tenho um livro na bolsa, então sentei, coloquei meu prato na mesa e puxei o livro na cara, lia no meio das mastigações. Devo admitir que estou virando uma solitária. Não sozinha, solitária, são duas coisas diferentes. Eu e o Hemingway- que ainda não tinha ido para a áfrica em seus acessos de solidão. Aqui, estava ainda apaixonado por uma pequena chamada Brett, interessante mas tonta que sempre acabava casando com alguém que não gostava. Sempre, infernal essa Brett. Foi quando uma moça sentou na minha frente, e ai, realmente tive que parar para olhá-la. Não por ser sensacional, pois não era mesmo, mas porque também estava só, carregando o prato, procurando um lugar e pedindo licença. Sentou, logo ali na minha frente, e tinha uns tiques, piscava muito, olhava para todos os lados sem parar, batia os pés, tudo junto, tudo junto e engolia tudo rápido, que mesa esquisita, uma com o livro na cara e outra doidona que não para de se mexer. Estar solitário não é um problema, tem horas que o mundo realmente não quer interagir com a gente, e não há muito o que fazer além de se levar pra passear. A gente conversa, olha o mundo e se perdoa, porque não tem ninguém pra fazer isso por você, e ai é meio que obrigado, senão fica insuportável. Mas ninguém está livre de observações, então olhava para ela com vontade de rir de sua aflição, como provavelmente alguém poderia estar fazendo comigo. Não adianta, é assim que essa merda toda gira, a coisa é sentar em algum lugar e ser ciente da sua insignificância. No bom sentido sabe, se é que existe algum. Vai saber onde se vai parar, vira uma beberrona, vai caçar na áfrica, ou casa tem filhos e fica feliz. A coisa é: a escolha é solitária. Se pode ter tiques ou se conformar e ficar feliz com alguns encontros. Queria ter largado o livro nessa hora, e ter contado tudo isso para a moça da frente. Mas desisti da ideia, esse tipo de coisa é algo que se descobre, não dá pra dividir, ela que se vire, ou não. Talvez já saiba.
Levantei e deixei o prato na mesa. Sai com um estômago preenchido. Acho que não só o estômago.
Lembrei então que tinha um par, tão solitário quanto eu. Sempre tenho um livro na bolsa, então sentei, coloquei meu prato na mesa e puxei o livro na cara, lia no meio das mastigações. Devo admitir que estou virando uma solitária. Não sozinha, solitária, são duas coisas diferentes. Eu e o Hemingway- que ainda não tinha ido para a áfrica em seus acessos de solidão. Aqui, estava ainda apaixonado por uma pequena chamada Brett, interessante mas tonta que sempre acabava casando com alguém que não gostava. Sempre, infernal essa Brett. Foi quando uma moça sentou na minha frente, e ai, realmente tive que parar para olhá-la. Não por ser sensacional, pois não era mesmo, mas porque também estava só, carregando o prato, procurando um lugar e pedindo licença. Sentou, logo ali na minha frente, e tinha uns tiques, piscava muito, olhava para todos os lados sem parar, batia os pés, tudo junto, tudo junto e engolia tudo rápido, que mesa esquisita, uma com o livro na cara e outra doidona que não para de se mexer. Estar solitário não é um problema, tem horas que o mundo realmente não quer interagir com a gente, e não há muito o que fazer além de se levar pra passear. A gente conversa, olha o mundo e se perdoa, porque não tem ninguém pra fazer isso por você, e ai é meio que obrigado, senão fica insuportável. Mas ninguém está livre de observações, então olhava para ela com vontade de rir de sua aflição, como provavelmente alguém poderia estar fazendo comigo. Não adianta, é assim que essa merda toda gira, a coisa é sentar em algum lugar e ser ciente da sua insignificância. No bom sentido sabe, se é que existe algum. Vai saber onde se vai parar, vira uma beberrona, vai caçar na áfrica, ou casa tem filhos e fica feliz. A coisa é: a escolha é solitária. Se pode ter tiques ou se conformar e ficar feliz com alguns encontros. Queria ter largado o livro nessa hora, e ter contado tudo isso para a moça da frente. Mas desisti da ideia, esse tipo de coisa é algo que se descobre, não dá pra dividir, ela que se vire, ou não. Talvez já saiba.
Levantei e deixei o prato na mesa. Sai com um estômago preenchido. Acho que não só o estômago.
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