quarta-feira, 17 de abril de 2013

Desencontro

Vivia na janela
fazendo psiu pra passarinho:
passarinho vem aqui
e leva meu recado
escuta direitinho
e cantarola
teu canto agudo
de manhãzinha pro meu  bem querer
coloca no teu bico
todo meu afeto
e diz que o espero.
Tombou de solidão
na jardineira da janela
estendeu o corpo em flor
ainda nem desabrochada
esparramou solitária na terra
e repousou sobre o vazio da espera.
Ele não veio
nem o passarinho.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Para meu afeto.

Para meu afeto
escrevo baixo o sol da manhã
que acalenta meu corpo, acarinha a pele
como o corpo seu quando me acosto ao teu lado
entregue ao cansaço

Logo eu, que lutava tanto contra estas coisas
ditas coisas de apaixonado
que ria, crendo ridículas as pieguices dos que escancaram
alegres, plenos, o amor escolhido
me vejo nesta condição, ridícula.

E que feliz, confesso! É estar neste papel
vai colorindo meus dias , modorrentos
infla o peito de saudade
me faz caminhar na rua com um riso frouxo
acalma o coração inquieto

E mesmo quando em água turva
as braçadas pareciam não ser suficientes
e me afogava no mar de palavras que tinha dificuldade de dizer
me fazendo pequena frente a ti e ao mundo
resguardava em mim um sinalizador no peito

Um estômago cheio de flores
que não mais se enroscam, não machucam
e se me transborda o choro
é de uma emoção, simples
mas de imenso tamanho.

Não há promessa de futuro
nem uma preocupação com isto. Deixo acontecer
todos os dias. Para que se renove
Não amamos igual todos os dias
só amamos, insistentemente.

Se não me faço clara
é a vontade de traduzir esse fluxo
que tem sido presente no meu corpo
que em palavras se faz tão falho
mas que dentro de mim é claro, sincero, sentido.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Para abrir os olhos


Um passo de cada vez, é o que sempre dizem. Um passo de cada vez. Pedem cautela, muita atenção. Análise. Investem no medo do chão, na fragilidade do corpo, na incerteza de tudo o que não é visto. Passo a passo, construo um caminho pautado em uma segurança inventada, com bases quase sólidas que dizem me sustentar. Apenas dizem, pois, quando nelas, sua instabilidade é tão forte quanto algo não demarcado.
Fecho os olhos e me entrego, seguindo instintivamente, sempre adiante, pisando em estruturas frágeis que são tão externas a mim. No percurso, a terrível constatação: Nada disso é meu. Caminho diante escolhas que não são minhas, me isento da responsabilidade maior de partir para o mundo carregando meus tijolos para construir algo em plena consciência. 

Me faço livre na queda.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Colagem 2: Sono de sereia

( versos feitos com colagem, tema sugerido)

Efêmero

o sono é perturbado na primeira vinda da onda





Alguma coisa
mais substancial
do que se adaptar











fôlego longo.

Colagem 1: Autorretrato

( Versos propostos por meio de colagem, tema sugerido )

Mas o que foi bonito fica com toda a força
fumo de cigarros.