quinta-feira, 31 de maio de 2012

Olhava de espreita o telefone, e depois se censurava por ser tão passiva. Já tinha decidido que iria esperar, e enquanto esperasse fingiria que não o estava fazendo, tentando distrair-se com qualquer coisa. Punha a música alta, dançava pela sala movimentando-se frenéticamente. Depois sentava em frente à caixa preta de imagem e chorava copiosamente com um desfecho de filme, depois procurava outro que estivesse acabando e chorava de novo. É engraçado pensar que tudo isso era só pra esperar sabe, dava até um pouco de dó, como esse telefonema traria um pequeno arroubo de felicidade. Ela começou a tentar meditação, sabe, pra achar a resposta do mundo em si, mas chorava no meio da meditação também, então olhava o telefone que insistia em não tocar.
Era só ligar. Só isso, mas doía fazê-lo, entendia que o não fazer lhe emprestava um pouquinho de dignidade. É um barato pensar que dignidade é isso, tão doída, mas sabe, é aquilo, passar um corretivo nos olhos pra disfarçar depois e se manter. Enfim, o telefone tocou, e não foi tão feliz quanto esperava, foi assim, meio aguado, meio ânsiado, foi quase uma redenção. Uma forma de estar que não fosse a da espera.
Pausa.








Nossa, ás vezes me surpreendo como consigo ser tão estática.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Diálogo

-Mãe, mãe porque você está chorando? Mãe, me responde, me responde porque você está chorando tanto? Mãe, mãe me diz.

Voltou os olhos marejados pra mim, olhou pra cima e secou os olhos e depois secou as mãos no avental.
- O mundo é tão grande, querido.

É mãe, eu sei. E você insiste em dizer que tenho tudo que preciso aonde estou.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Ás vezes, sei lá. Eu fico assim, em constantes devaneios, é como se de repente tudo no mundo fosse muito novo e me demandasse muita atenção, e ai me perco e fico longe, maior parte do tempo estou longe, fico não sei, sabe, assim meio fantasiando as coisas e inventando infinitas situações e questões e respostas só pra sentir que eu vivo muito mais do que vivo de verdade, fico no meu devaneio sendo tudo que não sou, e exibo pra mim mesma, sou feliz nestes devaneios, posso ser o que quero e ninguém se intromete ou dá opiniões que não pedi. A única coisa é que tenho o terrível hábito de divagar assim, a qualquer momento, então ás vezes rio em momentos que não são engraçados e as pessoas se irritam, pois percebem que em momento nenhum ouvi o que falavam. Não ouço o que falam, ás vezes no meio sinto um pouco de tédio e logo algum ponto me chama e me afoga em infinitos sentimentos que nunca compartilho, eu até tento, mas acabo não sendo muito entendida e aqueles olhos inquisitivos ficam te medindo e tal, na real sou muito sozinha, deve ser por isso que me distraio fácil, sou sozinha, compartilho poucas coisas para outras pessoas, compartilho muito comigo, mas sou de difícil trato, Senhor como sou, deve ser por isso que invento tantas coisas pra mim. Sei lá, ás vezes fico assim meio inquieta, duvido muito do mundo, lembro de coisas que não são e esqueço algumas formas conhecidas, porque substituí por alguma que na minha cabeça tinha mais lógica. Não sei, o mundo me entedia um pouco.