quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

São versos espasmódicos os que me saltam agora, como se tivessem acordado de madrugada pelo som dos disparos no escuro: qualquer coisa como um estalido metálico anunciando o momento da largada, mas eu não corro: já não há joelho para longos tiros e nem fôlego para tão grandes distâncias em tão curto tempo. Só a anunciação: 
-Está atrasada. 
É que meu pulso nunca foi propriedade de relógio: tenho as horas, os dias, meses e anos marcados pela distância dos afetos: a natureza do meu tempo parte de outra grandeza: a do detalhe. E nunca fui dada às grandes corridas, principalmente quando não sei para qual lado corro: sempre para o lado contrário: sempre uma corrida de um. Por vezes me venci, mas me alcançaram os resíduos perdedores, todos chegando aos poucos, colando de volta, alongando os tornozelos: eles me encontraram. Então, versos que se espreguiçam na beira da janela procurando a origem do estampido são os que fervilham agora, em uma vontade de ignorância, vontade de giro: vontade de só seguir pé direito e pé esquerdo em uma sequência infinita sem pressa contra o chão. Eu quero tanto um tempo advérbio.