terça-feira, 27 de setembro de 2011

Sem título

Ás vezes a noite ficava da janela espreitando se havia luz no teu quarto
e quando não, imaginava teu corpinho quente embaixo do afago do cobertor
que será que faz este quando não está comigo?
Sonha, come, chora, escuta, dança, pula, sofre, se amargura, bebe, cheira, grita, estranha, dorme, acorda, lê, se isola, teima, ri, desfruta, desflora, desaparece, cantarola, assobia, se cansa
de tantas coisas que poderia estar fazendo...

Fechava a janela e me encabrunhava feito gato deitada
sempre me escapavam lágrimas
Eu te amo, e não sei como faz.

Da espera

Eu sou da turma dos aflitos, dos bem aflitos. Existe uma ânsia muito forte pra que as coisas aconteçam, e apesar da paciência que se faz aparente, é mais fácil chamá-la de espera. Paciência é para aqueles que acreditam que as coisas irão acontecer no seu tempo certo e devido, que é algo que eu acredito mas não respeito. Essa é a espera. O acaso é um tanto caprichoso, as coisas acontecem quando você está tagarelando e olhando para os lados sem pretensão nenhuma. É uma atenção desatenta. É mais ou menos esperar o relógio se mover olhando pra ele, e o tempo passa a ser infinito. Na distração, ele passou. A espera é bem hostil, ela te come aos poucos, e quando as coisas acontecem você já não tem nada pra recebê-las, porque criou-se um oco, e na ânsia, de mostrar e fazer tudo que você esperou, de ser capaz de receber tudo, nada mais se encaixa, porque não há lugar, ou porque sobra, dentro daquele vazio, e você quer, de coração se recompor, mas cadê seu coração?
E a dor que você sente por isso, você causa, para aquilo que você mais esperou, e este é o grande ato final. Fere quem já foi ferido, infelizmente é um desses gordos clichês verdadeiros. Não de propósito, mas é a ânsia desses aflitos, tão presente e tão hostil. E o mais irônico, para o começo desse novo ato é que, não há muito o que fazer, a não ser esperar a passagem do tempo, tentando adquirir paciência e acreditando, Senhor, acreditando que tudo acontece por algum motivo, e as coisas se renovam, ou se entendem, ou qualquer coisa que não me deixe ficar olhando o relógio.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Estava lendo tudo que está escrito aqui e pensei - Senhor! Que esquizofrênia!
Ai lembrei que era tudo meu...

Da fluidez das coisas

"Não compreendera ainda até que ponto os dias podiam ser, ao mesmo tempo, curtos e longos. Longos para viver, sem dúvida, mas de tal modo distendidos que acabavam por se sobrepor uns aos outros e por perder o nome."
Albert Camus


As coisas andam tão rápidas. Escrevo e não reconheço minha letra, ando e não reconheço meu passo, me vejo e meu rosto apresenta as primeiras marcas escavadas de um tempo que passa tão depressa. E eu nem vi. Um dia acordei e me percebi deitada em um descampado. Foi tudo tão rápido que eu esqueci de cultivar alguma coisa naquele espaço, uma mínima margarida. Mínima, não mísera, pois flores nunca são míseras. E esse espaço vazio já faz tão parte de mim que nem lembro quando deveria ter começado a plantar algo. Não sei nem ainda se é possível, pois sabe, as coisas andam tão rápidas que sua fluídez me levaria a pensar em outra coisa, e esqueceria, acho.
Poucas vezes como uma brincadeira do acaso, nesses espaços rápidos, eu dou de encontro comigo. É o único momento em que elimino a passagem do tempo, e num entrecruzado de ações quase me atinjo. E por esta pretensão de chegar a mim de forma rápida e atônita, é que o tempo se restabelece e me perco de novo na rapidez.
Precisava tanto dar de encontro comigo. Iniciar um processo de cultivo, plantando a primeira centelha criadora em mim - A minha ocupação em algum lugar do espaço, onde a passagem do tempo não me assuste, me agarrando na certeza de algo semelhante a vida.

sábado, 10 de setembro de 2011

Ai se essas lágrimas que me escapam fossem suficientes para acalmar essa dor que me abrasa o peito.