sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Presença

Esperou todo o banheiro fazer vapor para começar a tirar a roupa. Entrou com cuidado no box e primeiro molhou a nuca para depois deixar a água escorrer por todo o corpo, do topo da cabeça aos pés. Todos os movimentos que fazia eram bem suaves, respeitando o rito que ali acontecia. O processo quase religioso de limpeza das partes íntimas, a maquiagem das partes a serem oferecidas à invasão alheia para substituição de sua função original para sua função simbólica -a troca do expelir para o receber.
Se seca com a mesma suavidade com que se lavou. Besunta o corpo de creme, com uma essência floral enjoativamente feminina, veste uma calcinha bonita e um vestido bonito. Ajeita os cabelos com os dedos, pinta o olho, a boca, as faces e espera, espera e espera.
A ânsia da passividade infelizmente confundiu-se com uma incômoda movimentação intestinal que por ironia do destino pôs-se a trabalhar freneticamente depois do ritual de purificação.
Fez-se bonita, mas infelizmente possuía um cu, que em questão de segundos fez com que se desfizesse e a reconectasse com o que tem de mais humano e o que fazemos de mais vergonhoso. Não havia maneiras de seu vestido esconder aquilo.

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