quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Babélico

Há um tempo me assombra a ideia de que talvez fale certo idioma Babélico disfarçado por um véu dionisíaco que esconde o tédio que se escapa tanto de mim que falo, quanto daquele que no esforço de ouvir, perde-se nos rompantes de sons incompreensíveis e significados dúbios de uma língua já velha, exausta de movimentar-se na boca seca de mel: salga o paladar de comida fria enquanto observa mil bocas mastigarem na sua frente com a estranheza de quem observa de perto um inseto deglutindo o alimento: porque não se proíbe que se coma diante o outro? A mesma boca vil que blasfema mantém o ser melancólico vívido esturricando-lhe o sistema digestivo de mil nutrientes que não contemplam a ausência de coisas mais vitais, mas há quem diga que amor não suporta um estômago vazio. A boca: mastiga, movimenta a comida de um lado para o outro, restos de alimento escapando em uma fala incongruente, enche a boca de gás: a mesma que irrompe a boca alheia com a língua: que molha a buceta no quarto escuro, sorrateira mergulhando mais e mais no corpo entrevado, a língua doce de secreções lambendo o resto do corpo, escreve com a saliva palavras incompreensíveis nas minhas costas Benedictus ore in my ass, não rasgue o véu há muito tão bem colocado: é derme: suas mãos escalpelam e me fazem nua em carne-viva: exposta, vulgar, o sangue-suor escorregando pela testa pescoço, pingando no lençol branco: corpo alimento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário