quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Até tentei escapar

E ai se me apresenta a frase que não é homem e sim o mundo o anormal, mas sempre me perguntei quais são os preceitos da normalidade que a tornam tão palpável quanto se fala dela: é vaidoso dizer-se dono da consciência em sua totalidade, em sua plenitude, sabendo dos arroubos de espontaneidade animalescos que nos tomam de surpresa em um comportamento um tanto debilóide: tanto dentro de uma tristeza quanto de uma alegria desmedida escancarando a boca cheia de dentes, fazendo-se avesso, secretando por aí as coisas que se diziam vergonha: deixa um rastro gosmento na calçada que brilha em dia de sol enquanto sente o corpo pulular alegrinho, o pé empurrando o chão em uma tentativa de vôo, mesmo reconhecendo o peso: mesmo ciente da queda. Ora, e de que importa esborrachar-se feito um purê desengonçado neste plano horizontal que se diz feito para caminhar por cima, quem liga, quando à contravenção, o corpo é tomado por um ânimo ( e aqui evoco toda a ancestralidade etimológica da palavra ânimo, porque só assim ela se fará compreensível no tipo de ânimo que falo, sabe? o ÂNIMO, aquela coisa do caralho que te toma e UAH, te faz soltar um brado vivaz e ridículo feito pirata em cima de uma canoa para enfrentar a tal da tempestade feita uma nuvem só) uma vontade cômica de esparramar-se cortando as linhas fronteiriças com uma tesourinha: recorta a boca o crânio a coluna vertebral e o períneo esparramando o amor, a vontade e o monte de bosta presa ( sempre me perguntei como as coisas sublimes sobrevivem no corpo nadando no meio de tanta porcaria) pelo chão, sabe? o chão do mundo, a calçada infinita que em algum momento da vida desemboca em alguma avenida 9 de julho espalhada por aí, em alamedas de natureza artificial com árvores feiosas de luzes de natal. A coisa é, tem diferença a minha anormalidade com a do mundo, se o construo e secreto nele todo o meu serzinho, esse euzinho umbigado que caminha arrastando-se, sonhando agarrado a postes, lambendo o corrimão das pontes para acessar as mil línguas que se debruçaram contra o parapeito em devaneios de vidamorte enquanto se levantavam os prédios? A loucura do mundo é só uma faceta minha e vide o verso.

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