Feliz Aniversário o caralho. É o que tenho vontade de dizer todos os anos. Ai que época maldita essa de esperar o aniversário. Gosto muito, muito de aniversário, dos outros. Acho que não existe ocasião melhor para ver pessoas queridas, para celebrar, pular, enfim, fazer qualquer outra coisa que nos permitimos, do que no aniversário dos outros. Mas eu não gosto do meu. Nunca é motivo de felicidade, só de angústia, meu Deus, tá certo que quase tudo no mundo me angustia, nossa, é só me dar uns minutos, minutinhos tiquititinhos que pode ter certeza, eu vou fritar e reduzir tudo em um grande nada e demolir todas as possibilidades com um tanque de guerra Tchuuuuuf Tchuuuuf bombas explodindo tudo. Então, aniversário é uma boa época para fritar. E é uma atitude ingrata, nossa, sei que é, afinal, o amor, o afeto e todo o nhenhé, não se mede por um puto dia do ano, ele é construído com as delicadezas cotidianas, com as trocas, mas porra! Porque as pessoas esquecem de telefonar justo, JUSTO no dia em que você nasceu? Mas igual, e daí? hein? E DAÍ?! Eu mesma esqueço de ligar várias vezes, nossa, várias. Sou péssima para lembrar datas. E nunca foi por falta de bem querer. E quer data mais bizarra que essa, de aniversário? Uma homenagem a si mesmo "louvem-me porque há não sei tantos anos eu nasci". Agora me diz, sério, o que o mundo tem com isso, que eu nasci? Tirando a coitada da minha mãe que teve a barriga esgarçada e meu pai que teve que me sustentar, ninguém tem nada com isso. Na verdade nem eles, né, porque depois que eu nasci, fodeu, virei um "ser no mundo", sei lá o que isso quer dizer, mas é isso, um ser independente como os outros 7 bilhões que estão por ai, e os que nascem, todos os dias. Todo dia é aniversário de alguém, puta merda, que que tem de especial nisso? Mas ai, se as pessoas não lembram, vem esse sentimento, essa onda de renegação que se apodera e deixa as bochechas quentinhas de leve rancor: ai de mim que não sou querida. Ai de mim.Ninguém lembra dos outros 364 dias que foram muito legais e todo mundo lembrou de você. Só no bendito aniversário, que um pobre coitado esqueceu. Eu podia morrer no meu aniversário e ressuscitar no dia seguinte. Ganhar um vale-presente do hospital "passaporte para um coma". Mas deixem flores, por favor, para quando eu acordar eu ver que fui lembrada. Eu odeio meu aniversário, porque entro em estado de surto maluco psicótico depressivo. Quem teve a ideia de me parir, gente do céu no meu aniversário, gente do céu, vou celebrar o que? Mais um ano de vida? E esse ciclo de anos por acaso, por acaso tem alguma mudança significativa no comportamento, na forma como as coisas acontecem? NADA, NÃO INFLUEM EM NADA. Faço as mesmas coisas e fico angustiada na mesma época desde que tenho consciência de mim. Mas lembrem de mim, ai ai, odiaria ficar largada nesse dia que odeio, mas no seu limite, por favor, no seu limite. Aniversário não é legal, é tempo que passa, e que passa a todo momento, é só o lembrete: corre, corre que ele está correndo. Deve tocar Oswaldo Montenegro no fundo, para deixar tudo ainda mais dramático. Falando em música, e as músicas de aniversário? Tosco. TOSCO, ficar atrás de uma mesa com um bolo gosmento, fazer um desejo. Um desejo? Que que eu faço com um desejo? Porque ficam batendo palma? Alô, eu não ganhei o Nobel, só fiquei mais velha. Mas tem gente que se emociona tanto, né, acho bonito, eu também me emociono, ai, ganhar o primeiro pedaço, é bonito. É sempre da vó, né, ou tem aquelas pessoas que ficam em cima do muro e dão pro papai e pra mamãe, ou dão pra si. Tosqueira.
O fato é que eu odeio meu aniversário. Mas não se esqueçam que ele existe, porque eu odeio isso também.
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