segunda-feira, 9 de setembro de 2013

( Sem título ) - a história de uma mulher

Ficou estendida na cama depois do ato do amor, olhando as costas curvadas de seu bem querer com seu arfar tranquilo. Estaria dormindo já? As únicas coisas que sabe é que não houve abraços no fim do ato, e a promessa feita no começo da noite pelo seu bem querer em seu tom habitualmente grave " Esta é a última vez". Ele dizia gostar dela, mas que sofriam de incompatibilidade ideológica. Atônita, ela se punha a choramingar " Eu largo tudo, não me importo". Ele a olhava carinhoso, e repetia que era por aquilo que ele se apaixonara, se ela mudasse, aquela pessoa não existiria. Vai entender, caralho! Não quero entender, quero ser! E, por ser a última vez, amou como quem morre, e soluçava ensurdecedoramente acreditando que gemia. Agora estavam deitados, cada um para um lado. Ela começou a rezar, rezou com o fervor de alguém que se converte quando recebe uma revelação, rezou para que aquela noite fosse contínua, eterna, para que Eos se esquecesse de estender seu manto de dia sobre os homens. Se pudesse, faria com que nunca mais amanhecesse. Observava com ternura seu bem querer dormir. Acariciava-lhe as costas enquanto olhava distraída para o banheiro: sempre ostentou o fato de que não era depósito de fluídos de ninguém, mas naquele momento ardia, queria ser e queria que ele colocasse o máximo dele dentro dela, que ele a invadisse. Era irônico o que acontecia ali, ela deitada com "aquilo" ( tinha uma dificuldade muito grande para verbalizar o que era: gozo, sêmen, porra - estava constantemente dividida entre a lascívia e o constrangimento), escorrendo por entre as pernas, com a dúvida atroz se limpava ou não aquilo que era a única coisa que sobraria dele mais tarde. Desesperou-se pelo momento que "aquilo" secasse e os lençóis fossem lavados: o pouco que sobraria de seu bem querer escorrendo pelo ralo como qualquer outra coisinha repugnante.

Então amanheceu. Ela ficou ligeiramente pasma com sua estupidez: Afinal, como poderia ter desejado que não houvesse mais Sol?

Levantou da cama sem se limpar, vestiu sua roupa e deixou seu bem querer dormindo. "Ele não percebeu", murmurou baixinho como se pessoas adormecidas tivessem a capacidade de perceber tudo. Foi saindo bem devagar olhando para cada canto do apartamento: queria memorizar cada espaço e cada sujeira na parede. Fechou a porta em um gesto definitivo : Não pode suportar a espera para ver se a promessa se cumpriria ou não.

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