quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Rascunho

É incrível como os pensamentos fluem nos momentos em que estamos de passagem. As grandes revelações sempre surgem destas caminhadas. É como se toda a informação recebida começasse a decantar, acionasse uma pequena válvula por onde as ideias escapam, e, na solidão do trajeto, ser sincero consigo mesmo seja algo viável, afinal, ali, é apenas consigo que se pode dialogar.

Canso de criar personagens para mim para que possa conversar comigo enquanto caminho. E enquanto danço. E enquanto ouço música – a verdade, é que me acho muito chata, então, me disfarço de possíveis mins que me agradariam mais para que possa me aturar. Nestas séries de enquantos do dia, coloco no lugar o que parece fora do eixo, o que, claro, depois de um tempo, volta a envergar – mas enquanto não enverga, são 5 minutos de paz e clareza. Estar com o(s) outro(s) me amedronta, pois acho inevitável (e assumo ser este um erro imensurável), utilizar-me das pessoas como espelho, o que, por sinal, é algo muito injusto: afinal, não me reconheço, e não reconheço o outro neste processo. Algumas cisões são necessárias para que a coisa toda funcione. Me apego ao outro, pois acredito que ai está uma forma de estar: Se estão comigo, é porque, por minha vez, estou também. Quantas vezes sozinha me peguei no desespero de não saber se realmente estava – se realmente existia – e a resposta estava no outro:  acredito que a melhor forma de provar-se ser vivente é na troca.

Fiz uma série de descobertas muito cedo que não me levaram a nada. Minto, fiz uma série de descobertas que me levaram ao nada. A descoberta e a busca pelo tal dito conhecimento me impulsionou a uma busca irrefreável de desconstruir absolutamente tudo: como questão filosófica clássica, comecei matando Deus, e utilizando-me de Dostoievski, “se Deus não existe, tudo é permitido”, comecei então a desconstruir tudo o que me foi possível, chegando ao famoso vazio existencial, o que me fez querer, por milhares de vezes, morrer (mas nem assim resolveria meus problemas, pois, mais que Deus, a morte é a maior das minhas questões: Para quem não crê no corpo, nem no espaço em que está, nem em Deus, o que seria então morrer?)

Como, a partir disto que escrevo, não poderia então, começar a inventar tudo o que sou e que faço? Como sustentar as ditas verdades e viver segundo elas, quando o que sou, e o que quero está em constante transformação, a partir do momento que me ponho no lugar de escritor e personagem todos os dias, a todo instante?

- Tracei uma teia para mim e fiquei presa nos fios que teci, e agora espero o grande bicho me destruir: Do outro lado me observo, esperando o momento propício em que, na fome de mim, me engula.

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