sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

E lá estava eu, parada com o prato na mão procurando uma mesa, sozinha. O restaurante estava cheio, barulhento, então acabava que tínhamos que dividir a mesa com pessoas que não conhecíamos, pedir licença e todas essas coisas pra sentar enquanto elas conversavam com seus acompanhantes. E foi isso que eu fiz, caminhei por entre aquele mundo de gente, tudo por causa da fome, miserável fome, e agora tinha que  procurar um lugar vago. Um apenas, nem tinha que me preocupar de não me separar de ninguém, pois estava comigo, logo eu, que duvido de minha companhia, metida em um inferno tão formidável como este.
Lembrei então que tinha um par, tão solitário quanto eu. Sempre tenho um livro na bolsa, então sentei, coloquei meu prato na mesa e puxei o livro na cara,  lia no meio das mastigações. Devo admitir que estou virando uma solitária. Não sozinha, solitária, são duas coisas diferentes. Eu e o Hemingway- que ainda não tinha ido para a áfrica em seus acessos de solidão. Aqui, estava ainda apaixonado por uma pequena chamada Brett,  interessante mas tonta que sempre acabava casando com alguém que não gostava. Sempre, infernal essa Brett. Foi quando uma moça sentou na minha frente, e ai, realmente tive que parar para olhá-la. Não por ser sensacional, pois não era mesmo, mas porque também estava só, carregando o prato, procurando um lugar e pedindo licença. Sentou, logo ali na minha frente, e tinha uns tiques, piscava muito, olhava para todos os lados sem parar, batia os pés, tudo junto, tudo junto e engolia tudo rápido, que mesa esquisita, uma com o livro na cara e outra doidona que não para de se mexer. Estar solitário não é um problema, tem horas que o mundo realmente não quer interagir com a gente, e não há muito o que fazer além de se levar pra passear. A gente conversa, olha o mundo e se perdoa, porque não tem ninguém pra fazer isso por você, e ai é meio que obrigado, senão fica insuportável. Mas ninguém está livre de observações, então olhava para ela com vontade de rir de sua aflição, como provavelmente alguém poderia estar fazendo comigo. Não adianta, é assim que essa merda toda gira, a coisa é sentar em algum lugar e ser ciente da sua insignificância. No bom sentido sabe, se é que existe algum. Vai saber onde se vai parar, vira uma beberrona, vai caçar na áfrica, ou casa tem filhos e fica feliz. A coisa é: a escolha é solitária. Se pode ter tiques ou se conformar e ficar feliz com alguns encontros. Queria ter largado o livro nessa hora, e ter contado tudo isso para a moça da frente. Mas desisti da ideia, esse tipo de coisa é algo que se descobre, não dá pra dividir, ela que se vire, ou não. Talvez já saiba.
Levantei e deixei o prato na mesa. Sai com um estômago preenchido. Acho que não só o estômago.

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