sábado, 1 de dezembro de 2012

Outro dia cheguei em casa e havia um periquito azul preso perto da janela

Outro dia cheguei em casa e havia um periquito azul preso em uma gaiola perto da janela. E não por acaso colocaram o seu nome de Gardel. Gardel, o periquito azul que um dia estava em casa em sua gaiolinha, de frente à porta da varanda. Tive uma breve conversa com ele, essas coisas que a gente diz para as pessoas quando elas chegam em um espaço estranho, mas ele não me percebia, ou pelo menos fingia que não. Ficava ali olhando para fora, para além do vidro, de vez em quando virava o rabo pra mim para mostrar seu desconforto e depois voltava a olhar para fora. Encostei a carona no vidro, daquele jeito que a minha mãe odeia, que depois deixa tudo marcado e ela tem que vir com aquele tubinho tshiiiiiiiiiiiiiiii tshiiiiiiiiiiiiiiiiii para limpar, e comecei a ver o que o Gardel via, ou acho que era, enfim, olhei para a mesma direção empoleirada no chão com a cara no vidro. Nestas observações me senti um pouco parecida com ele, afinal, estávamos os dois entre algum suporte que dizia nos guardar. Nossa mãe, que ideia colocá-lo junto da janela, justo a um passarinho na gaiola, e nossa! Que ideia de comprar um apartamento com sacada, com janela, que são apenas para olhar lá fora, seria menos cruel se não houvesse nada, assim não dava para imaginar. É Gardel, são tantas as obrigações ( ai ele fez um cocozinho na comida, deve estar em greve de fome), que eu acho que não vou ver nada nessa vida, ou quase nada. E essas coisas, quase importantes, são as coisas que nos tiram o sono, é quase divertido, você acharia se entendesse algo disso. No fundo eu acho que você entende. Principalmente a parte do QUASE. São coisas QUASE importantes, as muito importantes, as grandes coisas, aparecem aos nossos olhos um pouco menores que seu corpo de passarinho. A gente esquece em cima da mesa, junto do óculos e da garrafa de água, que também são coisas muito importantes. Ai quando se vai ver o que lembrou de carregar é quase sempre bobeira.
Quando tirei a cara do vidro, a prometida marca para ser limpa. Olhei o periquito azul, ainda em seu estado de contemplação, e a triste constatação de que realmente não eramos tão diferentes. A maior diferença talvez, era que ele era bem mais bonito do que eu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário