quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Outro caso de barata.

Há um tempo tenho parado de comer carne. Presto bastante atenção em meu caminho para evitar pisar em algum bichinho, e sinto leve indignação quando alguns são mortos por descaso. Afinal, ambos temos o direito de existir, e é imprescindível de nossa parte entender que temos responsabilidades sobre estas coisas. Mas há uma em especial que me põe inquieta : E a barata?
Só de imaginá-las perambulando em um mesmo espaço me coloco ansiosa. Grandes, pequenas, avermelhadas, escuras, voadoras, não importa - o que fazer com elas? Elas entram nos seres vivos que estão, e que só por isso possuem o direito de existir, mas são tão esquisitas. Possuem asas, mas nem sabem usar direito ( as asas são principalmente para proteção do corpo), não fazem nada, são assustadas, sorrateiras, tontas e exageradamente desprezíveis - e existem pessoas assim, e nem por isso as chinelamos.
Outro dia fui para a cozinha beber água quando ouço um barulho. Por ser de noite, as coisas ficam mais assustadoras, e o barulho vinha da caixa de fósforo (Hãn?), é, atrás dela saltou uma barata grande, gorda e escura, e como de costume, fiquei gelada. Pedi socorro, e neste meio tempo ela escapava por entre as frestas da cozinha, ai meu paizinho eu não vou conseguir enfiar a mão nos armários para procurá-la, ela vai andar, botar ovos, e logo eu não vou conseguir por a mão em nada, ai meu pai, mata! Baratas me trazem essa sensação ambígua - queria poder tacar veneno e nunca mais vê-las, mas torço pra que sejam suficientemente inteligentes para encontrar a saída de casa e irem se abrigar em outro lugar. A barata da minha cozinha sumiu, e com o veneno todo, teríamos que esperar para ver se ela reapareceria viva ou morta.
Pouco tempo depois ela reapareceu, tonta, na árvore de Natal. Baratas conhecem a simbologia do Natal? Era barulhenta, e ficou ali na árvore balançando quando levou a borrifada de inseticida. Tombou. Levou o segundo jato, e caiu pra cima do móvel da mesma cor que ela. Suas patinhas para o ar moviam-se pedindo piedade, tinha o seu abdômen exposto, a cabecinha levantava e abaixava, as antenas com um movimento calmo e leve tentavam entender o que se passava com o corpo. Estava envenenada, agonizando baixo a sombra da morte que se fazia certa. A morte era Eu, observando o pobre ser. Sabia que as baratas existem há cerca de 400.000.000 de anos? E que seu organismo é praticamente o mesmo desde então? Como algo tão insignificante pode carregar consigo tamanha força? - enquanto pensava isso, a coisinha pré-histórica sufocava - Em que momento da história tornaram-se tão desprezíveis? Quanto tempo leva uma barata para morrer, porque essa, olha, foi mais de hora, até que lhe dei a chinelada da redenção. Como deve funcionar o veneno em seu corpo?
a-) A sufoca? Não sei como baratas respiram
b-)Paralisam seus orgãos?
c-)São toxinas que causam alucinações e fritam sua cabeça com desilusões até que elas próprias, de espontânea vontade, decidem morrer?
Me coloquei no papel de morte, mas não sei os motivos que as matam. Sei os meus, e acho que se colocar nesse papel é isso, pelo que parece, a gente nunca pergunta pro futuro defunto se ele tinha algum motivo, tirando quando a morte e o falecido são as mesmas pessoas, mas ai, as respostas ficarão pra sempre suspensas. Não posso dizer que me diverti, mas foi com certo fascínio que fiquei olhando aquela barata ir se abandonando até resolver dar a chinelada. Depois disso, nada muito diferente além de limpar as coisas e jogá-la no lixo junto com seus 400.000.000 de anos.

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