sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

A senhorita

Sempre lhe diziam para ter modos. Manusear bem os talheres, sentar com as pernas fechadas, não falar palavrão nem com a boca cheia. Que não era bonito rir alto, nem ter gestos muito expansivos, nem pedir pra repetir refeições, nem mexer em nada na casa dos outros. Também não era bom mostrar pele demais, nem contrariar, nem andar com cabelos desarrumados. Nada de muita maquiagem, nem de beber nada muito rápido, tossir demais também era uma indelicadeza, tinha sempre que ir ao toilette e pedir licença para se retirar da mesa, e para adentrar aos espaços, e para falar, ás vezes, sem querer, por hábito, pedia licença para respirar. Assim, pra não ser inconveniente. Vocabulário rebuscado, aprendera também a falar de diversos assuntos para melhor se colocar, não aporrinhar e nem parecer muda. Mas falar demais também era uma falta de tato, então aprendera os limites do falar para não parecer pretensiosa.
Ás vezes, corre para o banheiro e chora sem motivos. Nunca procurou saber a verdadeira razão. Permitia-se soluçar dentro de uma média de tempo que dura um xixi. Depois se recompõe, matando qualquer possibilidade de ser algo detrás disso tudo.

Alguém a observa, e puxa, uma senhorita exemplar.

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