quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Supermercado

Foi no mercado. Na parte da feira.
Haviam frutas variadas, e aquele colorido anunciava que haviam tido boa safra desta vez. Frutas em demasia, grandes, gordas, tilintando alegremente nas prateleiras, quase em um comportamento humano de se oferecerem, eram assim que estavam.As bancas haviam sido divididas por cores, não tipos, era uma grande palheta alimentícia no meio daquele cubo meio concreto e meio metal.
Em um canto, perto das frutas vermelhas, havia uma garota parada. Era meio franzina, meio branco, mas tinha algo nos olhos que a tornava interessante. Talvez fosse a forma que ela olhava as ameixas. Eram ameixas lindas, bem redondinhas e avermelhadas, empilhadas uma em cima da outra, e de vez em quando rolavam de cima da pilha, assustando a garota e tirando-a por momentos de seu transe. Aquela garota era um barato, sabe, legal mesmo ficar olhando, ela devia achar que ninguém reparava nela, então acabava tendo uns tiques espontâneos, sabe, desses que a gente geralmente tem quando está planejando algo muito importante. Em um gesto furtivo agarrou uma das ameixas. Não teria nada de espetacular no fato, se não fosse a forma como a agarrou. Estava claro que ela não compraria ameixas, queria apenas uma, apenas aquela que como um tesouro ela segurava na palma da mão. Era uma ameixa bem redondinha, com um cabinho mostrando-se timidamente se olhasse direito. Cabia na palma da mão da garota, numa concha perfeita. Parecia suculenta, por como a garota apertava de leve aquela fruta, fechando levemente os olhos a cada apertão. Passava de uma mão pra outra, sentindo com a ponta dos dedos a superfície lisa e avermelhada. Um pouco tensa, olho para os lados para ver se alguém observava, se alguém percebera o que estava acontecendo ali. Seu rosto relaxou, e a nudez dele foi coberta por uma vasta cabeleira, ela desmanchara o rabo de cavalo. Com a fruta ainda na mão, cuidadosamente levou-a perto do rosto, e a cheirou vagarosamente. Eu não podia me mover. Segurou firme e levou-a perto da boca. Encostou os lábios, colocou a ponta da língua, e com uma ousadia terrível mordeu a fruta, espirrando seu sumo para todos os lados.
Foi a glória.

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