domingo, 12 de fevereiro de 2012

De falar do processo

Fazendo um grande resumo, existe uma passagem interessante da escultura neoclássica para as experimentações que dariam o primeiro engate pra pensar em uma manifestação tridimensional moderna. Os grandes murais neoclássicos, além de estarem presos a uma narrativa histórica, que acomete a todos os seus personagens representados, mantém tudo preso à sua superfície. É uma existência quase que pela metade, e se quisessem mostrar a tridimensionalidade do corpo, as partes eram seccionadas em 2, 3, para se ter a noção de um todo. É Rodin, quem começa a modificar esta situação criando personagens que, mesmo fazendo parte de um mesmo contexto, pareciam lidar com aquilo com extrema particularidade. Eram independentes daquele espaço que os ligavam, e ali tínhamos corpos que se projetavam para fora, que pareciam que saiam da parede e aos poucos iam se criando, mergulhavam no espaço, desprendidos de qualquer realidade anatômica, existindo quase que para si apenas. E as imperfeições das esculturas começaram a ser menos mal vistas, pois faziam parte de um processo.
As obras do neoclássico são por excelência esteticamente atraentes. É o tipo de obra que as pessoas geralmente consideram agradáveis de se observar, aquele ideal antigo retomado em cada parte simetricamente representada. Mas tem uma coisa que me incomoda em observá-los. É engraçado que, falar que alguém parece uma representação desse período é um elogio e tanto, não é? Parecer essas musas, ou até mesmo ter o porte dos homens, tudo lindo. Mas tem algo relacionado com o tempo que me incomoda. Tudo que está ali é estático. Pertence à esfera do inalcançável. Uma sensação claustrofóbica me apodera, só de imaginar-me presa naquelas paredes, mas ao mesmo tempo, até um certo momento da minha vida era o que eu queria. Deus me livre, mesmo cheio de espirituosidade, me parecer com uma das mulheres de Picasso ou de Gauguin. No máximo ser uma figura de Seurat, na esperança de poder me desmanchar assim, sem querer, num olhar cheio de vesguice. Mas estou ali na parede, sustentada por uma camada concreta com milhões de figura, e nós na mesma história. Mas não sei, não quero mais fazer parte deste roteiro. Talvez em um chá com uma escultura de Rodin, esta me conte que as marcas são inevitáveis pra poder se deslocar daquele espaço. " É o processo", diria com uma expressão reflexiva , bebericando uma gota de chá que pingava da ponta de seu dedo. É o processo. Existir em si. É um tanto óbvio, mas é difícil. Alguém te mostra a estrutura e você acredita que é ai que tem que ficar. Mas ai surgem outras possibilidades, mas no final das contas dá na mesma não é? Afinal a desestrutura também parte de uma estrutura. No final nem Seurat, nem Gauguin, nem Rodin, Picasso Matisse Pollock I-N-G-R-E-S. Preciso urgentemente inventar uma coisa minha, para que as extremidades do meu corpo passem a ter contato com o ar e não com uma estrutura que me sutente, mas ao mesmo tempo me engole. Porque pode ser, não pode? Não dá pra saber se a figura brota ou adentra a pedra. Nunca se sabe, vou adentrar essa liquidez moderna, só vou lidar com o que é meu.
Balzac com suas roupas movimentadas no metal duro me observa.É o processo...

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