quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Da perda

Tinha um bichinho o qual amava muito. O guardava no peito, para carregá-lo junto comigo pois sofria na sua ausência. O apertava sempre com muita força contra meu peito, querendo que ele entrasse dentro de mim, até que um dia, num acesso de amor eu matei meu bichinho sufocado. Eu percebia seu incômodo, mas o amava muito para soltá-lo. Cuidei com sofreguidão daquele corpinho aplastado, e dormi as primeiras noites com ele do meu lado, achando que se ele me ouvisse chorar ele desistiria de morrer, e voltaria barulhento.

Mas não veio.

Vencida eu enterrei meu bichinho no canteiro do jardim. Cavei com uma colher a tarde toda aquela terra posta articialmente dentro de uma caixa de cimento, cavei até criar um espaço bem maior do que o corpo do bichinho, pois o via muito grande, de verdade. Embrulhei-o em um paninho que usava no cabelo e joguei terra por cima. Joguei flores por cima. Deitei meu corpo por cima como uma viúva prematura, experimentei a terra da qual ele fazia parte, pois era a forma que eu encontrei de ele estar dentro de mim.

Tempos depois nasceu um matinho aonde eu enterrei meu bichinho. Com uma alegria que mal cabia no meu corpo, eu explodi de emoção e comecei a colhe-los. Ele deve ter ficado bravo no começo, mas me ouviu chorar e encontrou forma de desmorrer. Colhi todo aquele corpo novo do bichinho, para ele estar perto de mim.

Anoiteceu.

E encontrei as mudas mortas em cima da mesinha. Devolvi da onde nunca deveria ter tirado.
Nunca mais iria fazer parte de mim.

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