sexta-feira, 21 de março de 2014

- É necessário ser absolutamente moderno

Caso contrário fica muito difícil entender as ondas de mudança dessa...dinâmica contemporânea: efêmero, ressignificação, sujeito, virtualidade, simulacro, idealizações: palavras tão recorrentes no meu vocabulário, mas com conceitos tão mal construídos: pouco entendo a maior parte das coisas que digo, repito por nelas crer, mas a vista é turva para enxergá-las perto de mim, ou longe, ou em qualquer lugar. Estou sempre deitada na barriga do mundo, observando as tangentes se afastarem, ás vezes acho que o que sei é eco. Me fecho entre quatro paredes crendo que esta é a edificação segura para se estar, mas a dúvida sempre me encontra: observo surgir as marcas de infiltração no teto: ele vai cair em cima de mim, a qualquer momento. É o questionamento. Não cai sempre, mas ficam de aviso, derrubando a água suja em cima da minha blusa branca: por vezes me perguntam por onde andei, e penso que sempre estive no mesmo lugar, mas a blusa parece sempre pior, é a goteira, entende? A dúvida que paira acima de mim, se tivesse uma escada tudo seria diferente, mas tenho pernas e um joelho ruim. Danço sozinha embaixo da goteira, e assim a ignoro, rodopio-rodopio-pirueta e termino tirando uma pequena valsinha, fico assim em transe vendo o quarto inundar das rachaduras, é que aqui não tenho medo das gentes e não preciso explicar estes termos do mundo novo: parece que antes de ser eu sou um objeto social: os livros dizem que esse esvaziamento faz parte da minha geração: o hedonismo barato faz parte da minha geração: as multifacetas fazem parte da minha geração: mas só porque nasci nesta geração não quer dizer que faça parte dela, faz sentido? Só sinto as mesmas coisas, as mesmas pressões e as mesmas demandas: existencialistinha fajuta, um pouquinho, termos filosóficos me complicam, apesar de existir estar além de qualquer tentativa racional de explicar. Se gostasse de Alberto Caieiro talvez acreditasse que a metafísica das coisas está nas próprias coisas, Alberto eu te amaria com todo o meu amor não-racionalizado e datado históricamente, mas entendo pouco da complexa questão da simplicade das coisas, quase vulgar. Sou complicadamente comum, errôneamente comum, singularmente comum, tentando entender coisas simples por meio de pretensiosos discursos das gentes que pouco saíram do quarto: rodopiam, todas elas junto comigo.
O artifício da escrita disso tudo não é real: o que me faz escrever é o que chega mais perto do que em mim é verdade, é a minha metafísica, a pouca simplicidade: meu óculos de mundo {[não sei de qual, se interno ou externo, isso é, se existe algum que vai além de mim (já vejo surgir, fina como um fio de cabelo, outra rachadura) a matemática só me ensinou como utilizar sinais de equação para fingir de sei dar ordem às partes]}.

A frase do título é do Rimbaud, e o caso é que nunca li Rimbaud direito, nem sei o que ele quis dizer com a frase mas a achei importante. Gosto do Rimbaud porque ele parou de escrever e foi para a África, ele, sei lá, um belo dia saiu do quarto.

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