sábado, 3 de novembro de 2012

O homem mais alto que eu já vi na vida

Ele era o homem mais alto que eu já havia visto na vida. Muito alto. Alto de não caber nos lugares, alto de ter que andar curvado no metrô, alto de tudo. Um gigante na terra de estaturas medianas E como não ser notado? Aquela massona se deslocando pelos espaços, ocupando quase tudo, com sapatos quase irreais, imensos a pisar no chão, aquele olhar manso de bichão assustado, maldita indiscrição de tamanho. Tinha outros olhos diante do mundo, devia enxergar uma outra linha de horizonte, olhos que viam poucos olhos e muitos cucurutos, e sem querer, podia prever os futuros calvos. Mas devia ter também o maior coração do mundo, pra bombear tanto sangue, precisava de um super coração, e pra ter a cara tão malemolente. Devia caber muita coisa naquele coração, naquele estômago, naquele corpo todo, caberiam uma de mim, 2 chineses, um cachorro e um canário, pra cantar, solitário na andança. Acho também que não podia pular,  perigosíssimo. Queria perguntar, como era viver em um mundo que não fora feito pra ele, mas me contive para não ser mal educada. Mas é algo questionável, não? Como é estar em um mundo que não foi pensado pra ti, em estrutura nenhuma, ai tem que virar tatu, se achatar, tentar encontrar um desconfortável encaixe pra caber, tem o mundo inteiro, mas tem que caber naquele espacinho de merdinha. Bom, acho que não é nada muito diferente do que fazemos todos os dias. Mas enfim, nossa, era o homem mais alto que eu já havia visto na vida.

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