segunda-feira, 5 de novembro de 2012

A história do caramujo

Quando eu era pequena, gostava de pegar caramujos na praia. Tinham um corpo diferente e um jeito adoravelmente melequento de se posicionar no mundo. Ia lá, com meu corpo gordinho para a beira do mar carregando um balde e começava a procurá-los. No baldinho, tentava criar um ambiente propício para que se desenvolvessem - enchia com areia e água do mar -e os punha lá dentro. Quando viu que a minha intenção era levá-los pra casa, minha mãe interveio e me fez devolvê-los pro mar " Ai é o lugar deles Paloma". Na hora fiquei muito triste, e devolvi, um a um para a areia molhada, segurando o choro para que eles não me vissem fragilizada. Eles, com seu corpo tão de molusco, saíram da concha reconhecendo o lar, e estenderam-se pra terra para se enterrarem. Estavam enfim, em casa.
Nesse momento, dando adeus aos caramujos, entendi quase não entendendo, naquela assimilação infantil das coisas, que nada me pertencia. Aprendi a me despedir das coisas cedo, e que, dolorosamente, as coisas que gostamos, apesar de gostarmos, possuem seu exato espaço no mundo e eles tem que ficar lá, mesmo que nós não estejamos. Não se carrega ninguém.
Afinal, como poderia viver um caramujo de mar dentro do balde?

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