quinta-feira, 31 de maio de 2012

Olhava de espreita o telefone, e depois se censurava por ser tão passiva. Já tinha decidido que iria esperar, e enquanto esperasse fingiria que não o estava fazendo, tentando distrair-se com qualquer coisa. Punha a música alta, dançava pela sala movimentando-se frenéticamente. Depois sentava em frente à caixa preta de imagem e chorava copiosamente com um desfecho de filme, depois procurava outro que estivesse acabando e chorava de novo. É engraçado pensar que tudo isso era só pra esperar sabe, dava até um pouco de dó, como esse telefonema traria um pequeno arroubo de felicidade. Ela começou a tentar meditação, sabe, pra achar a resposta do mundo em si, mas chorava no meio da meditação também, então olhava o telefone que insistia em não tocar.
Era só ligar. Só isso, mas doía fazê-lo, entendia que o não fazer lhe emprestava um pouquinho de dignidade. É um barato pensar que dignidade é isso, tão doída, mas sabe, é aquilo, passar um corretivo nos olhos pra disfarçar depois e se manter. Enfim, o telefone tocou, e não foi tão feliz quanto esperava, foi assim, meio aguado, meio ânsiado, foi quase uma redenção. Uma forma de estar que não fosse a da espera.

Nenhum comentário:

Postar um comentário