quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Considerações finais

" Por falta da eternidade
juntaram dez mil velharias.
Um bedel bolorento tira um doce cochilo, 
o bigode pendido sobre a vitrine
(...)
A coroa sobreviveu à cabeça.
A mão perdeu para a luva.
A bota direita derrotou a perna"

Wislawa Szymborska

Já se pode ouvir o som do verme no armário roendo velhas fotos. Se alimenta com perversa tranquilidade do anonimato de entes já não tão queridos, de pequenas histórias que nada mais são além de silêncio: velhas bocas cheias de terra: pequenos recados que já não são para ninguém.

- Somem os retratos e edificam-se os símbolos, como diria certo ditado.

Pode-se dizer se eram pobres, se tinham fome. Quais eram as roupas, quais eram as joias, quais eram as peles. Como a cidade mudou. Nada mais. Legados ao esquecimento eterno das gerações. Não se fala do amor, das mazelas, dos pequenos feitos, do doce-amargo da vida condizente a todos que estão. Tudo isso se recolhe, e some com o esvair do corpo: quais são os segredos que contam um saco de osso?


Foram nada. E ainda o são.

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