sábado, 5 de janeiro de 2013

Chega em casa, vai até o quarto e tira, os sapatos e a roupa. Desfila pela casa com sua calcinha de renda preta, se olha no espelho, desliza os dedos pelo corpo e se desanima quando percebe os olhos devolvidos pelo reflexo. Senta na cadeira e beberica um resto de algo que ficou no copo em cima da mesa. Limpa o batom carmim na ponta da toalha - que ficará para sempre manchada de vermelho.
Levanta, acende um cigarro e senta na cadeira da sacada. Não tinha com o que se preocupar, pois quem a vestia era a própria noite, velava seu corpo com um tecido acinzentado, escurecia seus olhos, destacava as olheiras. Uma das mãos, a direita, pendurada sobre os braços da cadeira com o cigarro penso, e com a outra fazia pequenos afagos em seu peito inquieto, bem ali onde fica o externo. Gosta de saber os nomes das partes do corpo, esta. Fêmur, tíbia, omoplatas, sacro, crista ilíaca, ísquios, metacarpos, metatarsos, passava horas procurando por eles, conferindo parte por parte, sabe, ajuda nos movimentos. O cigarro queimou todo, as luzes vizinhas foram se apagando, todos foram dormir. O mundo segue mesmo quando insistimos em ficar no mesmo lugar. Elas acabam mesmo que continuemos.
E quem sabe o ponto exato em que elas se encerram?

Nenhum comentário:

Postar um comentário