quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Da fluidez das coisas

"Não compreendera ainda até que ponto os dias podiam ser, ao mesmo tempo, curtos e longos. Longos para viver, sem dúvida, mas de tal modo distendidos que acabavam por se sobrepor uns aos outros e por perder o nome."
Albert Camus


As coisas andam tão rápidas. Escrevo e não reconheço minha letra, ando e não reconheço meu passo, me vejo e meu rosto apresenta as primeiras marcas escavadas de um tempo que passa tão depressa. E eu nem vi. Um dia acordei e me percebi deitada em um descampado. Foi tudo tão rápido que eu esqueci de cultivar alguma coisa naquele espaço, uma mínima margarida. Mínima, não mísera, pois flores nunca são míseras. E esse espaço vazio já faz tão parte de mim que nem lembro quando deveria ter começado a plantar algo. Não sei nem ainda se é possível, pois sabe, as coisas andam tão rápidas que sua fluídez me levaria a pensar em outra coisa, e esqueceria, acho.
Poucas vezes como uma brincadeira do acaso, nesses espaços rápidos, eu dou de encontro comigo. É o único momento em que elimino a passagem do tempo, e num entrecruzado de ações quase me atinjo. E por esta pretensão de chegar a mim de forma rápida e atônita, é que o tempo se restabelece e me perco de novo na rapidez.
Precisava tanto dar de encontro comigo. Iniciar um processo de cultivo, plantando a primeira centelha criadora em mim - A minha ocupação em algum lugar do espaço, onde a passagem do tempo não me assuste, me agarrando na certeza de algo semelhante a vida.

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