domingo, 3 de julho de 2011

É certo que aquele fio esperançoso se rompeu feito remendos de roupa velha. Mas eu gosto muito dessa roupa, então eu a coloco na gaveta por recordação só. Há espaço, então eu guardo com carinho, e espremo de alguma maneira o novo nessa mesma gaveta. Ainda insisto em vesti-la, sabe aquela saudade? E fico no espelho lembrando de como ela caia bem, mas os fios, pobres, todos gastos, até mesmo aquele filete pendendo melancólico desprovido de sua função de agasalho. Ai eu tiro e guardo de volta, até a hora que a gaveta se sature, e as peças protestem desesperadas por espaços. Ai, como sempre, vou começar a colocá-las em qualquer buraco do armário, em cima de cadeiras e no pé da cama. As novas. A remendada fica ali, afinal, não sobram opções além destas
a) Guardá-la e que ela ocupe espaço pra sempre; b) tentar remendar e dar uma solução porca para aquilo que já foi desfeito; c) doá-la, doar algo roto para alguém e por carência, aquele pedaço que falta não fará diferença, antes meio do que nada, não é assim que ensinaram? Não é? A ter pela metade? Poderia tentar remanejar onde por o que, mas está tudo tão bagunçado que me dá preguiça. Sem contar que é uma surpresa, estendo o braço, pinço com o dedo e olhe só! Resgato algo, que provavelmente me entendie, não entendo o novo. Gosto de olhar, mas me seguro em fios rotos e os puxo até eles se desfazerem. No final das contas sou um corpo nu sentado no piso do quarto, as roupas velhas estão desfaceladas e não são suficientes, e as novas não me vestem.

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