segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Nascimento

Quando me fiz, desenvolvida num útero amargo
arrancada fui, ao contrário
Para lembrar-me sempre - Primeiro se fixam os pés
Mais tarde se der, a cabeça

Quando me deram a luz, fez-se escuro
Rápido! Esganavam-se as horas - ainda restam miseráveis a nascer
Ao abrir os olhos, a luz os comeu
Fui obrigada a inventá-los, colocá-los nas mãos, na língua

Lá vai! A tresloucada, mal parida!
Ser retalhado, sem feições significativas
A puta! Vadia!
Sorriso quebrado, peito vazio, alma ferida.

O que se fez de seus pés enraizados?
Palpita um coração nesse corpo frio?
Só sinto o fel de teu sangue amargo
A carne do teu seio, nu, entregue ao mundo

Se Deus está em tudo, está dentro de mim
Entra noite adentro, noite no meu corpo
Se não está
Sou puro infortúnio do destino

Quando me vi, alma triste resignada
Não suportei o peso de me parir, de novo
Abortei tudo
De mim, não resta mais nada.

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